Doente do sexo feminino, 64 anos e hipertensa. É admitida por dispneia, cansaço fácil com 5 dias de evolução após viagem de avião. Ao exame objetivo estava polipneica, Fc 140bpm, SatO2 91%, auscultação pulmonar com fervores crepitantes bibasais e membros inferiores sem edemas. Dos meios complementares salienta-se D-dímeros discretamente elevados (279U/l), Gasimetria com alcalose respiratória, ECG com fibrilhação auricular (FA) e Telerradiografia Tórax com índice cardiotorácico › 50% infiltrado 1/3 inferior bilateralmente. Ecocardiograma evidenciou regurgitação tricúspide moderada com PSAP 61 mmHg, cavidades direitas dilatadas, aurícula esquerda dilatada, ventrículo esquerdo não dilatado com função sistólica não avaliada (pela taquifibrilhação). Pela FA e suspeita de tromboembolismo pulmonar (TEP) iniciou anticoagulação e anti arrítmico. Realizou Angio TAC de tórax que excluiu TEP mas revelou alteração do retorno venoso ao coração direito por veia cava superior esquerda acessória (VCSEA) que termina na aurícula direita (figura 1 e 2). Agendada consulta de Cardiologia teve alta hemodinamicamente estável sob anticoagulação oral.
A presença da VCSEA é de 0.3 – 0.4 % na população sendo que a sua persistência resulta da falha embriológica na regressão de parte da veia cardinal esquerda. Normalmente a VCSE sofre obliteração e apenas a sua terminação cardíaca persiste como seio coronário (1). Em1.5 a 10% dos doentes com VCSEA verifica-se anomalias cardíacas congénitas associadas, no entanto quando isolada, os doentes são assintomáticos na ausência de outras comorbilidades (2,3). No caso clínico, a arritmia que motivou admissão no SU corresponde a uma das complicações frequentes da VCSEA(4,5). Salienta-se como provável consequência da alteração do retorno venoso, a progressiva dilatação das cavidades direitas com a consequente descompensação cardíaca despoletada pela taquiarritmia. Por residir no Estrangeiro, não foi possível concluir o estudo cardíaco, condição obrigatória no caso de identificação de VCSEA pela elevada prevalência de defeitos no septo inter auricular ou da drenagem venosa (1,3,6).
Figura I

Cortes coronais da Tomografia Computorizada de Toráx com contraste demonstrando o percurso da VCSE
Figura II

Cortes axiais da Tomografia Computorizada de Toráx com contraste evidenciando a VCSE lateral ao arco aórtico
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