DISSECÇÃO AÓRTICA ASSINTOMÁTICA: UMA DESCOBERTA INCIDENTAL
Imagens em Medicina
Autor(es) :
Pedro Fortes*, Quintino Mandas Biagué*, Vera Guerreiro**, Carlos Monteverde*** * Internato de Formação Específica, Medicina Interna – Serviço de Medicina II ** Assistente Hospitalar de Medicina Interna – Serviço de Medicina II *** Director de Departamento das Especialidades Médicas – Serviço de Medicina II
Instituições :
+
Data de Aceitação :
30-09-2014
Data de Publicação :
25-05-2016
ISSN :
2183-7546
RESUMO
CASO CLÍNICO Mulher de 89 anos, caucasiana, com antecedentes de asma e hipertensão arterial (HTA) desde há 30 anos. Recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia, febre (38ºC) e tosse com expectoração muco-purulenta. Da avaliação inicial, destacaram-se: fervores subcrepitantes bilaterais; neutrofilia relativa (93%); PCR 37mg/dL; hipercapnia (49mmHg) em ar ambiente; D-dímeros 6090ng/mL; radiografia torácica com imagem de condensação dos lobos médio direito e inferior esquerdo, alargamento do mediastino superior e desvio esquerdo da traqueia. Os achados foram confirmados com tomografia tóraco-abdominal, a qual mostrou ainda dilatação aneurismática da aorta torácica e dissecção aórtica (DA) tipo I de DeBakey, com extensão à aorta abdominal distal (figuras 1 e 2). Enzimologia cardíaca e electrocardiograma sem alterações relevantes. Retrospectivamente, a doente negava sintomatologia sugestiva de síndrome aórtica aguda, nomeadamente toracalgia, dorsalgia, dor abdominal ou síncope. Durante o internamento, houve resolução da pneumonia sob antibioticoterapia, com PA controlada com carvedilol e losartan, mantendo-se hemodinamicamente estável. DISCUSSÃO A DA do tipo I de DeBakey manifesta-se habitualmente entre os 60 e os 70 anos, cursando em 90% dos casos com dorsalgia tipo “rasgão” e tendo mortalidade de quase 30% (1-3). Tal como nos tipos I e II, o factor de risco mais comum é a HTA descontrolada (2). A DA indolor é uma situação rara, ocorrendo em cerca de 10% dos casos, tipicamente nos tipos I e II, sendo excepcional no tipo III (3). Manifestações atípicas como a apresentada correlacionam-se com idade avançada e menores grau de hipoperfusão. A sintomatologia secundária à hipoperfusão varia, por sua vez, com a extensão circunferencial da dissecção, reentrada distal do falso lúmen no verdadeiro e topografia dos ostia de vasos viscerais relativamente à lesão (1, 4). O tratamento da DA tipo I é habitualmente cirúrgico. Contudo, no caso apresentado, perante o diagnóstico provável de DA crónica, idade avançada e baixo performance status, e após discussão com a equipa de Cirurgia Vascular do hospital de referência, optou-se por tratamento conservador com controlo da PA, assumindo-se ausência de benefício de investigação adicional. A doente encontra-se assintomática.
Palavras Chave :
Dissecção, aorta, hipertensão
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