O pneumomediastino espontâneo (PME) é uma entidade rara, de caráter benigno e evolução autolimitada, que se carateriza pela presença de ar livre mediastínico, sem história de trauma prévio ou patologia de base identificada. Apresenta como fatores predisponentes, o tabagismo, asma e drogas inaladas. De acordo com a fisiopatologia, ocorre extravasamento de ar por pequenas ruturas alveolares para a bainha broncovascular circundante, causando movimento centrípeto do ar pelas diferenças de pressão entre o mediastino e o pulmão. As manifestações clínicas mais comuns são dor torácica pleurítica retroesternal e dispneia1. O exame físico é normal em 30% dos casos, podendo evidenciar enfisema subcutâneo, sinal de Hamman ou distensão das veias do pescoço por compromisso do retorno venoso2. A radiografia de tórax (RxT) permite estabelecer o diagnóstico na maioria dos casos, apresentando alterações subtis como a presença de uma linha hipertransparente adjacente ao bordo da silhueta cardíaca. A tomografia é mais sensível na deteção do PME mas deve ser reservada para exclusão de doença pleuroparenquimatosa ou na suspeita de perfuração esofágica, rutura traqueobrônquica ou pneumotórax concomitante, assumidos como os principais diagnósticos diferenciais. O tratamento é geralmente conservador3, com analgesia e repouso, evitando situações em que há aumento da pressão intratorácica, sendo a cirurgia ou o recurso a técnicas invasivas útil apenas quando são confirmados os diagnósticos diferenciais ou no pneumomediastino secundário.
Descreve-se o caso de uma mulher de 32 anos, autónoma, fumadora de 16UMA, que recorreu ao Serviço de Urgência por toracalgia pleurítica súbita e dispneia. Sem alterações no exame físico. Realizou RxT póstero-anterior que evidenciou linha hipertransparente no bordo cardíaco esquerdo visível bilateralmente, na incidência de perfil (Fig. I e II). A tomografia de tórax confirmou a presença de pneumomediastino, tendo a doente evoluído favoravelmente apenas com terapêutica conservadora. Foram excluídas alterações pleuroparenquimatosas, défice de alfa1antitripsina e doença obstrutiva ou restritiva pulmonar.
Figura I

Radiografia de tórax póstero-anterior com linha hipertransparente no bordo esquerdo da silhueta cardíaca.
Figura II

Radiografia de tórax de perfil demonstrando linha hipertransparente em ambos bordos da silhueta cardíaca.
BIBLIOGRAFIA
1 - Sahni S,Verma S,Grullon J,Esquire A,Patel P,Talwar A.Spontaneous pneumomediastinum: time for consensus. N Am J Med Sci.2013; 5:460-4.
2 - Saadoon A, Janahi. Spontaneous pneumomediastinum in children and adolescents; 2015. Disponível em: http://www.uptodate.com
3 - Hogan F, McCullough C, Rahman A. Spontaneous pneumomediastinum: an important differential in acute chest pain. BMJ Case Rep. 2014.