O edema pulmonar de reexpansão (EPR) é uma entidade rara, no entanto associado a mortalidade elevada (pode atingir os 20%)1. Geralmente é unilateral e ocorre tipicamente quando o pulmão é rapidamente reexpandido após drenagem de grande volume de derrame pleural (DP) ou pneumotórax, especialmente se o quadro estiver estabelecido por um período superior a 72 horas2. Tem etiopatogenia multifatorial, contribuindo mecanismos mecânicos, técnica de reexpansão, aumento da permeabilidade vascular, alterações na pressão da artéria pulmonar ou alterações inflamatórias na vasculatura pulmonar3. Os fatores de risco associados a EPR são idade jovem, duração do colapso pulmonar superior a três dias e a rápida reexpansão (incluem-se nesta categoria doentes com grandes derrames pleurais em que o volume de fluido removido excede os 3L)4.Quando se desenvolve EPR o tratamento recomendado é de suporte (oxigenoterapia, diurético, ventilação mecânica nos casos mais graves)1,4. Estratégias para prevenir o EPR: remover, no máximo, 1800 mL de liquido pleural;interrupção do procedimento se houver cessação espontânea de drenagem do fluido ou se o doente experimentar desconforto no peito ou tosse persistente (sintomas correlacionados com redução da pressão pleural)4.
Homem, 55 anos de idade, fumador, sem outros antecedentes de relevo. Recorreu ao Serviço de Urgência, por apresentar quadro de astenia, anorexia e perda de 12 Kg de peso, com 2 meses de evolução. Sem outra sintomatologia associada. Ao exame físico aspeto emagrecido, eupneico, apiretico e normotenso; auscultação pulmonar (AP) diminuição dos sons respiratórios nos 2/3 inferiores do campo pulmonar esquerdo (CPE). Radiografia torácica (RT) com imagem de derrame pleural (DP) à esquerda (Figura 1). Efetuada toracocentese diagnóstica com biopsia pleural, seguida por toracocentese evacuadora de 3 litros de líquido amarelo citrino, sem complicações imediatas aparentes. Do estudo: Líquido pleural - exsudado; adenosina deaminase (ADA) negativa; glicose normal; bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) negativos; bacteriológio estéril, citologia negativa para células malignas. Biopsia pleural - infiltrado inflamatório linfoplasmocítico, sem granulomas ou sinais de malignidade.
Entretanto, 3 horas após o procedimento o doente iniciou quadro de dispneia súbita associada a tosse produtiva com expetoração arejada de cor rosada. Ao exame objetivo apresentava-se polipneico, taquicardico, normotenso, gasometricamente com insuficiência respiratória hipoxemica, AP com crepitações difusas no CPE. RT mostrava hipotransparência homogénea do CPE (poupando o ápice), correspondendo a edema de reexpansão pulmonar, do tipo edema agudo unilateral (Figura 2).
Iniciou oxigenoterapia e diurético endovenoso com melhoria clínica progressiva. Às 72 horas repetiu RT onde se observou completa resolução dos achados radiológicos descritos anteriormente (Figura 3). Foi orientado para a consulta para prosseguir estudo etiológico.
Figura I

Radiografia torácica na admissão
Figura II

Radiografia torácica após toracocentese terapêutica
Figura III

Radiografia torácica 72 horas após procedimento de toracocentese terapêutica
BIBLIOGRAFIA
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[3] Chakraborty PP, Chakraborty S. Reexpansion Pulmonary Edema. Indian J Surg. 2012; 74 (2): 174-176.
[4] Neto AVM, Gabiatti G, Silva J. Edema pulmonar de reexpansão tratado com ventilação não invasiva: relato de caso. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. 2000; 28 (1): 71-73