Caso Clínico:
Apresenta-se o caso de um homem de 36 anos, que recorreu ao Serviço de Urgência por faringite e aftas orais recidivantes com 3 meses de evolução. No próprio dia, tinha iniciado artralgias do punho e joelho esquerdos, encontrando-se febril (39ºC), com lesões pustulosas na face e hiperémia conjuntival. À observação da cavidade oral, constatou-se a presença de aftas (Fig. 1) acompanhadas de hiperémia orofaríngea e, a nível articular, apresentava edema e rubor do joelho esquerdo com limitação funcional. O exame dos órgãos genitais revelou a presença de uma úlcera da glande (Fig. 2). Analiticamente verificou-se leucocitose (14.000 µ/L) e aumento dos parâmetros inflamatórios: PCR 233 mg/L; VS 69 mm/1h; FR 23 UI/mL. O estudo autoimune (ANA´s, ANCA’s), as serologias para vírus herpes simples I e II, vírus da imunodeficiência humana, assim como o exame sumário de urina foram negativos. O exame radiológico do joelho esquerdo era inocente e à observação oftalmológica sem uveíte documentada. Iniciou corticoterapia oral tendo-se verificado melhoria clínica e analítica. Após o episódio inicial, o doente manteve episódios recorrentes de aftas orais e pequenas lesões pustulosas dérmicas que melhoravam com corticoterapia oral.
DISCUSSÃO:
A Doença de Behçet (DB) é uma síndroma auto-inflamatória multissistémica recorrente, que evolui por surtos envolvendo habitualmente as estruturas muco-cutâneas e oculares. Qualquer outro território pode ser afectado, nomeadamente o vascular (venoso ou arterial), gastrointestinal, neurológico ou articular, mas a sua principal característica é a presença de úlceras dolorosas e recorrentes a nível oral e genital.(1,2,3)
Inicia-se em idades compreendidas entre os 20-40 anos, com incidência similar em ambos os géneros, sendo prevalente nos países que se estendem desde o Mediterrâneo à Ásia Oriental (antiga rota da seda).(4,5)
As aftas orais recorrentes conduziram à suspeita diagnóstica, que foi confirmada pela presença concomitante de úlcera genital e alterações cutâneas, apesar da ausência de uveíte e de patérgia cutânea.
Figura I

Aftas orais
Figura II

Úlcera genital
BIBLIOGRAFIA
1. International Study Group for Behçet’s Disease. Criteria for diagnosis of Behçet Disease. Lancet 1990;335:1078-1080.
2. Jorge Crespo e Grupo Nacional para o Estudo da Doença de Behçet. Doença de Behçet – Casuística Nacional. Medicina Interna 1997; 4: 225-232
3. Crespo J, Patto V, Proença R: Epidemiology of Behçet’s Syndrome in Portugal. BD News 2003; 1:1
4. Matute, Gabriel Riera, Elena Riera Alonso. La aftosis oral recurrente en Reumatología. Reumatología Clínica 2011; 7:323-328.
5. Tsuyoshi Sakane, Mitsuhiro Takeno, Noboru Suzuki, Goro Inaba. Behçet’s Disease. N Engl J Med 1999; 341:1284-129