A acalásia é um distúrbio primário da motilidade esofágica, com uma incidência anual de 1:100000 (1). Caracteriza-se pela ausência de peristaltismo e por um esfincter esofágico inferior hipertónico e incapaz de relaxar (2). Habitualmente é diagnosticada no início da idade adulta e pode apresentar-se com disfagia, vómitos, perda ponderal ou toracalgia (1). As complicações mais frequentes são pneumonia de aspiração e carcinoma do esófago (3). A manometria esofágica confirma o diagnóstico (4).
Caso Clínico: Mulher, 53 anos. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro clínico caracterizado por tosse produtiva, expetoração purulenta, dispneia e vómitos persistentes. A doente referia tosse, vómitos pós-prandiais, disfagia para sólidos e líquidos e perda ponderal de cerca de 22kg em 8 meses. Ao exame objetivo apresentava-se emagrecida, sem outros achados relevantes. Analiticamente tinha marcadores de inflamação elevados e critérios gasimétricos de insuficiência respiratória. Realizou TC torácica que revelou múltiplos focos de densificação do parênquima pulmonar, envolvendo os diferentes lobos dos dois campos pulmonares e distensão do esófago torácico em praticamente toda a sua extensão (Fig.I).
Foi internada no Serviço de Medicina para tratamento da infeção, sob antibioterapia empírica e investigação do quadro subjacente. Realizou endoscopia digestiva alta (EDA) e trânsito esófago-gastro-duodenal (Fig.II), ambos a favor de dismotilidade esofágica. Na EDA foi identificada esofagite por Candida albicans. A manometria esofágica confirmou o diagnóstico de acalásia.
A doente teve alta assintomática do ponto de vista respiratório. Analiticamente apresentou normalização dos marcadores de inflamação. Após resolução do quadro infeccioso foi submetida a esofagomiotomia.
A acalásia é uma doença rara, que se pode manifestar por disfagia e vómitos (1). O caso clínico apresenta uma doente que procura cuidados de saúde quando surge a primeira complicação da doença: pneumonia de aspiração. Tratadas as complicações, foi submetida a esofagomiotomia com resolução da sintomatologia.
Protecção de Seres Humanos e Animais: Os autores declaram que não foram realizadas experiências em seres humanos ou animais.
Direito à privacidade e Consentimento Informado: Os autores declaram que nenhum dado que permita a identificação do doente aparece neste artigo.
Conflito de interesses: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.
Fontes de financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.
Figura I

TC torácica com imagem de condensação no lobo inferior direito e dilatação esofágica com conteúdo alimentar.
Figura II

Trânsito baritado esofago-gástrico que mostra dilatação do terço inferior do esófago. Observa-se esófago em “bico de lápis”.
BIBLIOGRAFIA
(1) Luján-Sanchis M, Suárez-Callol P, Monzó-Gallego A, Bort-Pérez I, Plana-Campos L, Ferrer-Barceló L et al. Management of primary achalasia: The role of endoscopy. World J Gastrointest Endosc. 2015; 7(6):593-605.
(2) Gyawali CP. Achalasia: new perspectives on an old disease. Neurogastroenterol Motil. 2016; 28(1):4-11.
(3) O’Neill OM, Johnston BT, Coleman HG. Achalasia: A review of clinical diagnosis, epidemiology, treatment and outcomes. World J Gastroenterol. 2013; 19(35):5806-12.
(4) Pandolfino JE, Gowron AJ. Achalasia: a systematic review. JAMA. 2015; 313(18):1841-52.