Na Trombocitemia Essencial (TE) os eventos trombóticos e hemorrágicos são complicações comuns e uma causa major de morbilidade e mortalidade, contribuindo para 45% da mortalidade nesta população.
1O principal objectivo do tratamento assenta na prevenção dessas complicações através do reconhecimento atempado da presença ou ausência de factores de risco de trombose (estratificados por modelos preditivos de risco).
2Apresentamos o caso de uma mulher de 84 anos com história conhecida de TE, JAK2+, com 2 anos de evolução e sob antiagregação plaquetária, diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e dislipidemia. Recorreu ao Serviço de Urgência por dor abdominal difusa com 1 dia de evolução associada a vómitos alimentares e dejecções de fezes pastosas sem sangue e sem febre. Objectivamente apresentava-se com mucosas desidratadas, hipertensa (TA 197/91mmHg), abdómen doloroso com sinal de Blumberg presente. Analiticamente tinha elevação dos parâmetros inflamatórios (30.100/L leucócitos com neutrofilia de 90% e PCR 71.0 mg/L) e trombocitose (602.000/L). A TC abdomino-pélvica não revelou alterações. Por agravamento da dor abdominal realizou angioTC abdominal onde se evidenciou trombo da aorta descendente e mesentérica superior, com áreas de enfarte renal direito, esplénico, cecal e no íleo terminal. Iniciou hipocoagulação com enoxaparina, tendo-se verificado dissolução parcial dos trombos e melhoria das áreas de isquémia em TC de controlo. Tevealta clinicamente melhorada, medicada com hidroxiureia e anticoagulada. Conjugam-se neste caso diversos factores de risco trombótico: cardiovasculares (DM2, dislipidemia), fisiológicos (idade) e hematológicos (mutação JAK2+ e leucocitose). Têm sido propostos diversos modelos preditivos de trombose no contexto de TE (“
ENL and IWG-MRT consensos project” e “
IPSET-thrombosis”).
3-4Apesar de ser discutida como factor de risco independente para trombose, a leucocitose, não tem sido incorporada nos modelos preditivos. Este caso clínico ilustra a necessidade de discutir o papel da terapêutica antitrombótica no contexto da idade, risco cardiovascular e risco associado à TE
per si.Figura I

Trombo na aorta descendente (seta)
Figura II

Enfartes esplénicos múltiplos (asteriscos) e enfarte cortical do rim direito (seta)
BIBLIOGRAFIA
1- Takata Y, Seki R, Kanajii T, Nohara M. Association between thromboembolic events and the JAK2 V617F mutation in myeloproliferative neoplasms. 2013, 60, 89-97;
2- Barosi G, Tefferi A, Besses C, et al. Clinical end points for drug treatment trials in BCR-ABL1-negative classic myeloproliferative neoplasms: consensus statements from European LeukemiaNET (ELN) and Internation Working Group-Myeloproliferative Neoplasms Research and Treatment (IWG-MRT). Leukemia 2015; 29:20.;
3- Gowin K, Mesa R. Management of thrombocythemia. F1000Research. 2014;3:227. Epub 2014/10/18.;
4- Passamonti F, Caramazza D, Mora B, Casalone R, Maffioli M. It is time to change thrombosis risk assessment for PV and ET? Best practice & research Clinical haematology. 2014;27(2):121-7. Epub 2014/09/06.