As calcificações hepatoesplénicas são relativamente raras mas podem ocorrer em situações inflamatórias, neoplásicas, infeciosas ou isquémicas. Encontram-se calcificações relativamente localizadas associadas a hemangiomas, carcinoma hepatocelular, metástases e a fenómenos isquémicos hepáticos. As doenças granulomatosas, como a sarcoidose, a granulomatose de Wegener e a beriliose, podem provocar depósitos de cálcio multifocais no fígado e no baço. Dentro das condições infeciosas estão as lesões sequelares de tuberculose, histoplasmose, candidose hepatoesplénica, schistosomiase, hidatidose, citomegalovírus, toxoplasmose, abcessos piogénicos ou amebiano.1 A infeção por pneumocistis jirovecii que atinge doentes imunodeprimidos, em particular doentes infetados por VIH, envolve predominantemente o pulmão mas pode ocorrer como doença disseminada.2 No decurso da resolução desta infeção disseminada surgem, por vezes, calcificações em múltiplos órgãos e estruturas, sobretudo no território hepatoesplénico, caracteristicamente de distribuição difusa e heterogénea.3,4 A tomografia computadorizada que apresentamos (Figuras 1 e 2), obtida sem administração de contraste endovenoso, evidencia focos calcificados no fígado e baço, de distribuição difusa e heterogénea. É relativa a um doente de 40 anos, infetado pelo VIH-1, recentemente internado na nossa enfermaria por suspeita de pericardite que não se confirmou. O doente teve dois episódios de pneumocistose pulmonar nos 3 anos precedentes a este internamento que foram tratadas com cotrimoxazol em dose e duração recomendadas para pneumocistose pulmonar. Foram excluídas outras patologias que expliquem esta calcificação hepatoesplénica difusa. Baseado nos elementos clínicos e nas imagens características das lesões, assumiu-se o diagnóstico de calcificação hepatoesplénica difusa em contexto de pneumocistose disseminada. Até à data o doente encontra-se clinicamente estável, sem evidência de novas alterações imagiológicas.
Optámos por reportar o caso clínico pela sua relativa raridade.
Figura I

Calcificação hepática difusa em corte transversal plano abdominal
Figura II

Calcificação esplénica micro e macro nodular em corte transversal plano abdominal
BIBLIOGRAFIA
1. Paley MR, Ros PR. Hepatic calcification. Radiol Clin North Am. 1998;36:391–8.
2. Lubat E, Megibow A, Balthazar E, et al: Extrapulmonary Pneymocystis carinii infection in AIDS: CT findings. Radiology 174:157-160, 1990
3. Radin D, Baker E, Klatt E, et al: Visceral and nodal calcification in patients with AIDS-related Pneumocystis carinii infection: AJR Am J Roentgenol 154:27-31, 1990
4. Feurersten I, Francis P, Raffaeld M, et al: Widespread visceral calcifications in disseminated Pneumocystis carinii infection: CT characteristics. J Comput Assist TOmogr 14: 149-151, 1990