Mulher de 79 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, fratura do ramo isquiopúbico esquerdo e ligeiro atraso cognitivo. Após a referida fratura há cerca de 1 ano perdeu a autonomia mas manteve o seu estado cognitivo basal.
Foi internada no Serviço de Medicina Interna por enfarte cerebral subagudo occipital direito (Fig. 1), clinicamente evidenciado por hemianopsia homónima esquerda e síndroma confusional. Ao exame físico destacava-se uma hemiparesia direita espástica com hiperreflexia marcada e sinal de Babinski positivo à direita, achados incongruentes com a lesão isquémica subaguda, mas atribuíveis a uma área hipodensa de grandes dimensões com densidade de líquor na região temporo-occipital esquerda, com extensão superior até à convexidade fronto-parietal e occipital, comunicando o espaço de líquor da convexidade com o ventrículo lateral e provocando marcada moldagem e erosão óssea da cortical interna das escamas dos ossos occipital, parietal e temporal – correspondendo a quisto porencefálico encefaloclástico (Fig. 1 e 2) Após questionar os familiares, estes referiram que na idade lactente a doente sofreu um traumatismo crâneo-encefálico major (queda de uma “broeira” - utensilio de madeira para guardar as broas que se suspende no teto da despensa) não assistido medicamente, com alteração do estado de consciência e coma. Desenvolveu sequelas importantes – atraso cognitivo, hemiparesia e espasticidade direita com atrofia muscular e deformidades articulares como por exemplo pé equino, mantendo no entanto marcha autónoma.
A porencefalia é uma lesão rara e pode ser congénita ou adquirida. Neste último caso, ocorre secundariamente a trauma, hemorragia, enfarte ou mesmo encefalite focal.1,2 A maioria dos quistos porencefálicos comunica com o ventrículo lateral, depreendendo-se que a sua formação se deve à interrupção do epêndima – membrana delgada que reveste os ventrículos cerebrais – e erosão do tecido cerebral circundante por mecanismo de hipóxia-isquemia secundária à compressão exercida pelo líquor.2,3
No caso descrito, a doente não foi alvo de nenhuma intervenção terapêutica cirúrgica dirigida.
Figura I

Tomografia axial computarizada cerebral - Enfarte occipital à direita e quisto porencefálico à esquerda
Figura II

Tomografia axial computarizada cerebral - Quisto porencefálico à esquerda com erosão óssea marcada
BIBLIOGRAFIA
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