Descreve-se o caso de uma mulher de 37 anos com adenocarcinoma do reto sob quimioterapia que recorreu à urgência por queixas intermitentes de palpitações e toracalgia inespecífica com 1 dia de evolução, agravadas em decúbito lateral esquerdo. A observação clínica, as análises sanguíneas e o ECG revelaram-se inocentes. A radiografia torácica mostrou transecção do cateter venoso de longa duração na sua porção distal, com migração subsequente para o ventrículo direito (Figura 1); admitindo ser essa a etiologia, procedeu-se a remoção dessa porção por via percutânea (veia femoral direita) com resolução das queixas.
Desde a sua introdução no início dos anos oitenta, os cateteres venosos de longa duração têm vindo a ser utilizados essencialmente para administração de quimioterapia, antibioterapia ou nutrição parentérica a médio-longo prazo. As complicações globais decorrentes da sua utilização podem atingir 13% dos casos1; a transecção, nem sempre acompanhada de sintomatologia, com subsequente migração é rara (cerca de 0.1% dos casos)2, contudo, tendencialmente superior nas abordagens subclávias3. Devido ao risco de arritmia, complicações sépticas, complicações tromboembólicas ou mesmo de morte, uma vez detetada esta complicação, deve orientar-se o doente para remoção do fragmento, preferencialmente por via percutânea4.
Um dos primeiros relatos de embolização de cateter fraturado data de 1984 aquando da primeira descrição do “pinch-off sign”, isto é, a compressão de cateter subclávio entre a clavícula e a primeira costela, com consequente desvio de trajeto, estreitamento luminal ou mesmo transecçao do dispositivo, associado às referidas complicações5.
A radiografia torácica assume-se como a principal arma diagnóstica nestas situações. Alguns autores defendem a necessidade de avaliação imagiológica periódica, a preferência por trajetos vasculares mais lineares e de menor angulação (nomeadamente veia jugular interna), ou o apoio ecográfico para uma punção e posicionamentos mais precisos, para diminuir o risco de complicações associadas3.
Figura I

Transecção do cateter venoso de longa duração na sua porção distal e migração subsequente para o ventrículo direito
BIBLIOGRAFIA
1) Freytes CO, Reid P, Smith KL. Long-term experience with a total implanted catheter system in cancer patients. J Surg Oncol. 1990;45:99-102.
2) Franey T, DeMarco LC, Geiss AC, Ward RJ. Catheter fracture and embolisation in totally implanted venous access catheters. J Parenter Enteral Nutr. 1988;12:528-530.
3) Ko SY, Park SC, Hwang JK, Kim SD, Spontaneous fracture and migration ofcatheter of a totally implantable venous access port via internal jugular vein - a casereport. Journal of Cardiothoracic Surgery; 2016 [consultado 5 Jul 2016]. Disponível em: https://cardiothoracicsurgery.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13019-016-0450-y
4) Chang CL, Chen HH, Lin SE. Catheter fracture and cardiac Migration - An unusual fracture site of totally implantable venous devices: Report of two cases. Chang Gung Med J. 2005;28:425-430.
5) Aitken DR, Minton JP. The “pinch-off sign”: a warning of impending problems with permanent subclavian catheters. Am J Surg. 1984;148:633-636