A obstipação é uma condição gastrointestinal comum, multifactorial, com impacto significativo na qualidade de vida e, por vezes, identificada em pacientes que procuram os serviços de urgência somente quando atinge um grau extremo.1
A prevalência da obstipação aumenta com a idade, no entanto esta não é uma consequência fisiológica do envelhecimento, estando sim associada ao aumento de factores predisponentes, como doenças crónicas, imobilidade, condições neurológicas e psiquiátricas, e polimedicação.2,3
Diferentes pacientes têm diferentes perceções dos sintomas relacionados com a dificuldade na eliminação das fezes.3 Embora os clínicos muitas vezes se foquem principalmente na diminuição da frequência de dejeções, na definição de obstipação segundos os critérios de Roma III4, os doentes têm um conjunto de queixas mais abrangente.
A avaliação diagnóstica deve basear-se numa história clínica detalhada e no exame físico completo, incluindo a execução de toque rectal. Estudos laboratoriais, imagiológicos e endoscópicos deverão ser realizados apenas em indivíduos selecionados.3,5
O tratamento da maioria dos casos deve ser sintomático e baseado na alteração do estilo de vida e da dieta, ingestão de fibras e de líquidos, e recurso a laxantes.6
Apresenta-se o caso de uma mulher, de 87 anos, residente em Lar, acamada, com múltiplas morbilidades e polimedicada, admitida no Serviço de Urgência por dor abdominal.
Ao exame objectivo apresentava-se desidratada e evidenciando um abdómen levemente distendido, difusamente doloroso e discretamente timpanizado, sendo visíveis várias massas cuja palpação sugeria aglomerados fecais moldados (Fig.1). No toque rectal identificaram-se fezes impactadas na ampola rectal.
Na radiografia simples do abdómen podemos observar a presença de fezes em todo o colón e de fecaloma na ampola rectal (Fig.2).
Analiticamente a salientar ureia 253,6mg/dL, creatinina 3,6mg/dL e Na+ 153mEq/L.
Com adequada hidratação, uso de laxantes osmóticos e manobras manuais foi removido o fecaloma e restabelecido o trânsito intestinal.
Os autores destacam este caso pela exuberância clinico-imagiológica.
Figura I

Na inspeção abdominal são evidentes várias massas cuja palpação sugeria fezes moldadas no trajeto colónico.
Figura II

Radiografia simples do abdómen em que se identifica a presença de fezes em todo o colón e uma grande massa na ampola rectal “em miolo de pão” característica de fecaloma (seta).
BIBLIOGRAFIA
1. Belsey J, Greenfield S, Candy D, Geraint M. Systematic review: impact of constipation on quality of life in adults and children. Aliment Pharmacol Ther. 2010; 31:938–949.
2. Gallagher P, O’Mahony D. Constipation in old age. Best Pract Res Clin Gastroenterol. 2009; 23:875–887.
3. Lindeberg G, Hamid S, Malfertheiner P, Thomsen O, Fernandez LB, Garisch J, et al. Word Gastroenterology Organisation Global Guideline: Constipation – A Global Perspective. J Clin Gastroenterol. 2011; 45:483-487.
4. Longstreth GF, Thompson WG, Chey WD, Houghton LA, Mearin F, Spiller RC. Functional bowel disorders. Gastroenterology. 2006; 130:1480–1491.
5. Schmulson Wasserman M, Francisconi C, Olden K, Aguilar Paíz L, Bustos-Fernández L, Cohen H, et al. The Latin-American Consensus on Chronic Constipation. Gastroenterol Hepatol. 2008; 31:59-74.
6. Tack J, Muller-Lissner S. Treatment of chronic constipation: current pharmacologic approaches and future directions. Clin Gastroenterol Hepatol. 2009; 7:502–508.