A fratura dum fémur normal relaciona-se com traumatismos de elevada energia. Fraturas espontâneas do fémur ou por impactos de baixa energia associam-se, habitualmente, a alterações ósseas estruturais: metástases, mieloma, Doença de Paget ou osteoporose. As designadas fraturas atípicas do fémur surgem, geralmente, em mulheres com osteoporose sob tratamento prolongado com bifosfonatos. Manifestam-se por dor local ao longo de dias, semanas ou meses, ocorrendo sem mecanismo lesional que o justifique ou no contexto de traumatismo de baixa energia. A fratura, inicialmente incompleta, ocorre na região subtrocantérica ou diafisária do fémur, com traço fraturário transverso ou oblíquo curto. Pode observar-se uma espícula óssea que representa inflamação do periósteo ou calo ósseo em formação inicial. Em radiografia simples podem ser difíceis de detectar, mas na ressonância ou na cintigrafia óssea são evidentes. É importante o reconhecimento precoce destas lesões que podem rapidamente evoluir para fratura completa com descoaptação óssea. Recentemente este tipo de fraturas ganhou maior relevância no contexto de uso prolongado de bifosfonatos, pese embora o valor demonstrado destes fármacos na prevenção de fraturas osteoporóticas.1,2
O caso apresentado refere-se a uma doente de 80 anos do sexo feminino, medicada com alendronato há 4 anos. Há cerca de um ano foi avaliada por dor na coxa esquerda com 15 dias de evolução: a radiografia revelou pequeno traço de fratura transversal na cortical externa do fémur associada a pequena espícula, compatível com fratura atípica do fémur (Fig 1). Foi recomendado repouso e descarga na marcha, mas uma semana depois verificou-se fratura total espontânea do fémur, tratada posteriormente com encavilhamento ósseo. Um ano depois surgiu dor na coxa contralateral com as mesmas características, tendo a radiografia revelado pequeno traço fraturário oblíquo com espícula, igualmente sugestivo de fratura atípica, progredindo também para fratura completa com necessidade de tratamento cirúrgico (Fig 2).
Figura I

Fémur esquerdo: discreto traço de fratura transversal na cortical externa da diáfise femoral, associado a pequena espícula óssea (lesão ocorrida há um ano). Fémur direito: traço fraturário oblíquo na cortical externa da diáfise femoral, com espícula (lesão recente).
Figura II

Fémur esquerdo: encavilhado e com formação de calo ósseo (lesão ocorrida há um ano). Fémur direito: fratura completa recente da diáfise do fémur
BIBLIOGRAFIA
1- Flores F, Silva JP, Felicissimo P. Fraturas atípicas do fémur associadas a terapêutica prolongada com bifosfonatos. Acta Med Port 2013 Nov-Dec;26(6):746-750
2- Caeiro-Rey JR, Etxebarria-Foronda I, Mesa-Ramos M. Fracturas atípicas relacionadas con el uso prolongado de bifosfonatos. Estado de la situación. Rev esp cir ortop traumatol. 2011;55(5):392—404