A Acantose nigricans (AN) é uma lesão dermatológica caracterizada por placas hiperpigmentadas de coloração cinza-acastanhada, pruriginosas e aveludadas, que surgem de forma simétrica nas regiões intertriginosas.1 O diagnóstico é clínico com confirmação histológica.1-2 Pode surgir associada a várias endocrinopatias, principalmente obesidade e diabetes mellitus, ou mais raramente como uma síndrome paraneoplásica.3
Relata-se o caso de uma mulher, de 76 anos, institucionalizada, com antecedentes de doença de Alzheimer, admitida por hematémeses. Objetivamente apresentava-se pálida, com desconforto abdominal generalizado à palpação, mostrando a drenagem gástrica sangue digerido tipo “borra de café”. Sobressaíam ainda múltiplas lesões cutâneas queratósicas, acastanhadas, de superfície aveludada, mal delimitadas, dispersas nas regiões peribucal, supraciliar (Fig.1), pavilhões auriculares (Fig.2) e pregas axilares e inguinais, com cerca de um ano de evolução. Foi observada por Dermatologia que considerou as lesões típicas de AN, tendo o exame histológico confirmado esse diagnóstico. Entretanto, o estudo complementar evidenciou anemia microcítica hipocrómica, e a endoscopia digestiva alta identificou uma lesão gástrica ulcerada que a biópsia revelou tratar-se de adenocarcinoma gástrico. O estadiamento imagiológico revelou metastização ganglionar difusa (estadio IV). Discutido o caso em consulta de decisão terapêutica multidisciplinar, foi decidido best suportive care, pois a paciente não tinha condições para cirurgia ou quimioterapia, vindo a falecer 6 meses depois.
A AN maligna é uma dermatose paraneoplásica, de etiopatogenia ainda desconhecida, que se apresenta com envolvimento mucocutâneo extenso e rapidamente progressivo.3 As lesões são geralmente observadas antes ou na altura do diagnóstico da neoplasia subjacente e têm habitualmente uma evolução paralela à do tumor.4 Em 90% dos casos associa-se a adenocarcinomas abdominais, 60% dos quais localizam-se a nível gástrico.2-3 As neoplasias subjacentes tendem a ser muito agressivas, com uma sobrevida média menor que 2 anos.4-5
Este caso demonstra a importância do reconhecimento clínico da AN, pois pode representar o primeiro sinal de doença maligna.
Figura I

Lesões de Acantose nigricans.
Figura II

Lesões de Acantose nigricans.
BIBLIOGRAFIA
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