Mulher de 80 anos com antecedentes de síndrome depressivo recorre ao Serviço de Urgência por tonturas, astenia, anorexia e diarreia. As dejeções diarreicas, evoluindo desde há cerca de 7 meses, não apresentavam sangue ou muco, persistiam com o jejum e, por vezes, acompanhavam-se de dor abdominal. Apesar de não ter alterado os hábitos alimentares relatava emagrecimento de cerca de 15 quilos nesse período (14% do peso habitual).
Apresentava-se com mau estado geral, desidratada, hipotensa, com abdómen doloroso à palpação abdominal no quadrante superior direito. Analiticamente destacavam-se anemia normocítica normocrómica (10,0g/dL) e hiponatrémia (131 mEq/L). A exaustiva investigação etiológica da diarreia foi negativa. O estudo endoscópico mostrou “mucosa sem alterações”.
Na hipótese de síndrome paraneoplásico realizou tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica que infirmou malignidade. No entanto, as biópsias do cólon ascendente, disponíveis algumas semanas mais tarde, mostraram a existência de “banda de infiltrado inflamatório linfoplasmocitário, com participação de significativo número de neutrófilos e eosinófilos (figura 1), fenómenos de criptite e algumas áreas com fibrose sob o epitélio de superfície”; estes aspetos eram sugestivo de “colite colagenosa” (figura 2).
A colite colagenosa é uma entidade rara e predominante em idosos e mulheres1-3,6. A etiologia é desconhecida1-4. Os sintomas mais comuns são diarreia crónica, dor abdominal, emagrecimento, fadiga e incontinência fecal2-5. A diarreia é aquosa, persiste no período noturno e a mucosa do cólon é macroscopicamente normal, sendo as caraterísticas histopatológicas de diagnóstico identificadas no exame microscópico1-5. Frequentemente verifica-se agravamento progressivo da qualidade de vida3,6.
A doente iniciou enemas de budesonido (9mg/d durante 6 semanas) com evolução favorável da doença, verificando-se resolução da diarreia e ganho de 3 quilos. Tal como ilustra este caso, na presença de diarreia crónica a realização de biópsias da mucosa é essencial, ainda que a endoscopia tenha sido normal3,6.
Figura I

Biópsia da mucosa do cólon infiltrado inflamatório crónico
Figura II

Biospia de mucosa cólica que evidencia banda fibrosa, hialina e hipocelular, subjacente ao epitélio de superfície.
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia
1 - Tina Park, David Cave, Christopher Marshall. Microscopic colitis: A review of etiology, treatment and refractory disease. World J Gastroenterol 2015; 21(29): 8804-8810.
2 - Darrell S. Pardi, William J. Tremaine, and Alonso Carrasco-Labra. American Gastroenterological Association Institute Technical Review on the Medical Management of Microscopic Colitis. Gastroenterology 2016;150:247–274.
3 - Curt Tysk, Anna Wickbom, Nils Nyhlin, Sune Eriksson, Johan Bohr. Recent advances in diagnosis and treatment of microscopic colitis. Annals of Gastroenterology (2011) 24, 253-262.
4 - Gianluca Ianiro, Giovanni Cammarota, Luca Valerio, Brigida Eleonora Annicchiarico, Alessandro Milani, Massimo Siciliano, Antonio Gasbarrini. Microscopic colitis. World J Gastroenterol 2012; 18(43): 6206-6215.
5 - Johan Bohr, Anna Wickbom, Agnes Hegedus, Nils Nyhlin, Elisabeth Hultgren Hörnquist, Curt Tysk. Diagnosis and management of microscopic colitis: current perspectives. Clinical and Experimental Gastroenterology 2014:7 273–284.
6 - Isabel Pinheiro. Colite colagenosa – um diagnóstico a considerar. Revista Portuguesa de Medicina Interna 2003; 10(2).