A pneumatose intestinal caracteriza-se pela presença de gás no interior da parede intestinal. A sua incidência é desconhecida, uma vez que a maioria dos doentes apresenta-se sem sintomas clínicos1. Varia de achado incidental a uma condição de risco de vida2. A causa mais comum e mais grave é a necrose intestinal em 70% dos casos3. Além disso, o ar pode provocar distensão da parede intestinal por aumento da permeabilidade ao gás produzido por bactérias2.
Trata-se de um homem de 58 anos, com antecedentes pessoais de diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doença renal crónica e insuficiência cardíaca congestiva, que recorreu ao Serviço de Urgência por dor abdominal intensa, distensão abdominal e vómitos. Apresentou conteúdo hemático na sonda nasogástrica e instabilidade hemodinâmica. O rx abdominal mostrou níveis hidroaéreos (fig 1). A TC abdominal revelou extensa aeropatia no delgado e árvore vascular hepática compatível com isquemia mesentérica (fig 2). Foi operado de emergência, verificando-se isquemia irreversível do território da artéria mesentérica superior com necrose transmural de todo o intestino delgado, presença de ar na veia mesentérica superior impondo resseção completa do delgado, incompatível com sobrevivência.
Em doentes assintomáticos, o tratamento conservador deve ser instituído, por outro lado, nos casos de perfuração intestinal, isquemia do segmento cólico comprometido e oclusão intestinal, o tratamento cirúrgico é recomendado2,3.
Agradecimentos: Ao Dr. Sérgio Ferreira, Assistente Graduado de Imagiologia do Serviço de Imagiologia do Hospital Prof. Dr. Fernado da Fonseca, pela execução, legenda e interpretação das imagens publicadas.
Figura I

Radiografia do abdómen com níveis hidroaéreos no intestino delgado.
Figura II

Tomografia do abdómen com aeropatia na árvore vascular hepática (fígado estrelado)
BIBLIOGRAFIA
1. Loureiro JFM, Corrêa PAFP, Averbach M, Rossini GF, Pacco JL, Cavalcante RTM. Pneumatose intestinal. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 144. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ramb/v56n2/a09v56n2.pdf. Acedido aos 22.11.2016.
2. Brown G, Tolkachier L, Ortega V, Klein MM. Neumatosis gastrointestinal y portal. MEDICINA (Buenos Aires) 2014; 74: 302.
3. Vassallo J, Gauci J, Cortis Kelvin. Portomesenteric venous gas and pneumatosis intestinalis secondary to mesenteric ischaemia. BMJ Case Reports 2016; doi:10.1136/bcr-2016-215977