Apresenta-se o caso de uma mulher de 90 anos com antecedentes de hipertensão, insuficiência cardíaca de etiologia isquémica e aneurisma da aorta ascendente. Recorre ao SU em Junho de 2015 por précordialgia, em pontada, intensa e com irradiação ao pescoço e membros superiores com cerca de 3 dias de evolução, associada a dispneia em repouso e astenia. Objetivamente encontrava-se hemodinamicamente estável e apirética, destacando-se à auscultação sopro sistólico de ejeção grau III/VI no foco aórtico com irradiação carotídea e pulso radial diminuído à esquerda. Analiticamente sem alterações de relevo, incluindo BNP de 67,6ng/ml e sem insuficiência respiratória. A radiografia do tórax (figura 1) mostrou alargamento do mediastino em proeminência sobre o hemitórax direito e a tomografia computorizada (figura 2) revelou volumoso aneurisma da aorta ascendente, medindo 89mm de maior diâmetro, com disseção e trombo desde a origem até ao nível da crossa da aorta. O ecocardiograma excluiu derrame pericárdico e mostrou insuficiência aórtica mínima. A doente recusou correção cirúrgica, pelo que foi admitida em Unidade de Cuidados Intermédios, tendo alta, após controlo tensional e da frequência cardíaca através de beta-bloqueador, por intolerância a outras classes terapêuticas. A disseção da aorta mantém-se a complicação mais devastadora do sindrome torácico agudo, estando a disseção de tipo A de Stanford, sem reparação cirúrgica, associada a uma mortalidade de 1 a 2% por hora nas primeiras 48 horas [1]. Em doentes não elegiveis para tratamento cirúrgico, a estratégia inclui a redução da taxa da expansão e redução do risco de rotura, mantendo a pressão arterial no mínimo tolerado. Apesar do papel dos beta-bloqueadores não estar totalmente definido na prevenção da disseção aórtica em doentes com aneurisma, a sua administração comprovadamente melhorou a sobrevida de doentes com disseções de tipo A [2].
Figura I

Radiografia do torax: Aneurisma da aorta em proeminência sob o hemitórax direito.
Figura II

TC do tórax com contraste: Aneurisma da aorta ascendente, complicado de disseção e trombo intramural.
BIBLIOGRAFIA
1. Goldfinger JZ, Halperin JL, Marin ML, Stewart AS, Eagle KA, Fuster V, Thoracic Aortic Aneurysm and Dissection. Journal of the American Colege of Cardiology Vol. 64, No. 16, 2014
2. Suzuki T, Isselbacher EM, Nienaber CA, et al, Type-selective benefits of medications in treatment of acute aortic dissection (from the international registry of acute aortic dissection [IRAD]). Am J Cardiol 2012;109:122–7.