Um doente do sexo masculino de 47 anos foi admitido por dor retrosternal. Na história pregressa apenas se destacava dislipidémia para o que estava medicado com atorvastatina 10mg i.d. Não se identificaram alterações no exame físico além de frequência cardíaca de 110 batimentos por minuto. O electrocardiograma de 12 derivações revelou taquicardia sinusal mas não apresentava sinais de isquemia miocárdica. Não se verificou elevação dos parâmetros de fase aguda, de isquemia miocárdica ou dos dímeros D. A radiografia póstero-anterior do tórax demonstrou uma linha hipotransparente convexa paratraqueal direita (Fig. 1) que mereceu estudo complementar por tomografia computorizada (Fig. 2). A imagem incidental correspondia à fissura que se iniciava na veia ázigos e delimitava o “lobo da ázigos” do restante parênquima do lobo superior direito. A etiologia da dor foi associada a esofagite por refluxo gastroesofágico diagnosticada em endoscopia digestiva alta realizada posteriormente. Foi medicado com esomeprazol 40 mg id e sucralfato 1g tid durante 2 semanas com melhoria assinalável.
O denominado “lobo da ázigos” trata-se duma variante anatómica devida à falha na migração do percursor anatómico da veia ázigos durante a embriogénese. Não se trata de um verdadeiro lobo mas sim de um sequestro de parênquima do lobo superior direito.1 A prevalência é de 0,1-3% nos estudos anatómicos, 0,4% radiológicos e 1,2% tomográficos.2,3,4 Apesar de não constituir um achado patológico, a semelhança com patologia pulmonar e pleural conduz frequentemente à realização de tomografia para confirmação diagnóstica. A sua presença tem implicações na árvore traqueobrônquica e irrigação sanguínea do parênquima nessa zona. Assim, a sua identificação prévia à instrumentação torácica é importante para evitar eventuais intercorrências que possam surgir.5,6
Figura I

Radiografia de tórax demonstrando o lobo da ázigos.
Figura II

Tomografia computorizada do tórax demonstrando o lobo da ázigos.
BIBLIOGRAFIA
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