Estima-se que as anomalias congénitas da veia cava inferior (VCI) ocorram em cerca de 4% da população1 e a duplicação da VCI é a anomalia mais frequente.2 A duplicação da VCI, que resulta da persistência de ambas as veias supracardinais, tem uma prevalência de 0,2-0,3%.3 Esta variante anatómica raramente causa sintomas4, mas deve ser suspeitada em situações de embolia pulmonar recorrente após colocação de filtro da veia cava.5 Apresenta-se o caso de um homem de 80 anos, com antecedentes de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) por patologia valvular, flutter auricular, hipertensão arterial, dislipidemia, doença renal crónica estadio 3, litíase vesicular e diverticulose do cólon. Internado no Serviço de Medicina Interna por traqueobronquite e ICC descompensada. Apresentou uma evolução clínica favorável com a terapêutica instituída. Adicionalmente, nos primeiros dias de internamento, o doente manifestou uma dor abdominal difusa e inespecífica, sem irradiação. Ao exame físico, apresentava um abdómen mole e depressível, ligeiramente doloroso à palpação do epigastro e sem massas nem organomegalias palpáveis. Analiticamente, verificou-se pancitopenia e aumento dos valores da bilirrubina direta e total, mas valores normais das transaminases, da fosfatase alcalina e da gama-GT. Optou-se, então, pela realização de tomografia computadorizada (TC) abdominal, na qual se verificou um fígado de contornos lobulados, sugestivo de hepatopatia crónica, e uma vesícula biliar repleta de cálculos. Também se visualizou uma variante anatómica da veia cava inferior – veia cava inferior dupla, observando-se confluência das duas veias cavas inferiores em topografia retro-peritoneal (Fig.1). De facto, as imagens de TC permitem, comumente, a deteção de variantes da VCI3 e o caso descrito retrata um exemplo de uma duplicação da VCI assintomática que foi descoberta, acidentalmente, num exame imagiológico.
Figura I

Imagem de tomografia computadorizada abdominal: variante anatómica da veia cava inferior – veia cava inferior dupla.
BIBLIOGRAFIA
1 – D. Pineda, N. Moudgill, J. Eisenberg, P. DiMuzio, A. Rao. An interesting anatomic variant of inferior vena cava duplication: case report and review of the literature. Vascular. 2013 Jun;21(3):163-7.
2 – H. Verma, N. Hiremath, R.K. George, R.K. Tripathi. Endovascular management of venous ulcer in a patient with occluded duplicated inferior vena cava and review of inferior vena cava development. Vasc Endovascular Surg. 2014 Feb;48(2):162-5. doi: 10.1177/1538574413510627.
3 – R.P. Smillie, M. Shetty, A.C. Boyer, B. Madrazo, S.Z. Jafri. Imaging evaluation of the inferior vena cava. Radiographics. 2015 Mar-Apr;35(2):578-92. doi: 10.1148/rg.352140136.
4 – H. Chen, S. Emura, S. Nagasaki, K.Y. Kubo. Double inferior vena cava with interiliac vein: a case report and literature review. Okajimas Folia Anat Jpn. 2012 Feb;88(4):147-51.
5 – A. Katyal, M.A. Javed. Duplicate inferior vena cava filters: more is not always better.Am J Emerg Med. 2016 Jan;34(1):115.e1-4. doi: 10.1016/j.ajem.2015.04.083.