Relata-se o caso duma doente de 78 anos, com cansaço e dispneia crónicas interpretadas como asma e medicada com broncodilatadores, que recorreu ao serviço de urgência por agravamento desses sintomas. Encontrava-se consciente, com pressão arterial de 125/78 mmHg, taquicárdica, taquipneica e cianótica e discernia-se fervores à auscultação do hemitórax esquerdo. A gasimetria arterial em ar ambiente revelava pH 7,40 pO2 35 pCO2 36 mmHg. Salienta-se: D-dímeros 2.103 (normal < 500 ng/ml), péptido natriurético cerebral 160 (< 100pg/ml) e troponina T 0,023 (<0,014 ng/ml). O electrocardiograma exibia taquicardia sinusal. A radiografia de tórax mostrava um alargamento do mediastino para a esquerda, agravado comparativamente a exames prévios (Fig. 1). A tomografia computorizada identificou aneurisma da artéria pulmonar (AAP) com 65 mm de diâmetro sem sinais de ruptura. Verificou-se ainda tromboembolismo pulmonar (TEP) periférico (Fig. 2). O ecocardiograma transtorácico revelava sinais de sobrecarga do coração direito e excluía estenose de válvula pulmonar. Iniciou enoxaparina 1 mg/kg 12-12h. Requereu ventilação mecânica não invasiva durante 2 dias e oxigenoterapia durante 10 dias. Manteve estabilidade hemodinâmica sem vasopressor. Excluiu-se trombofilias e neoplasias ocultas. Medicada com varfarina, mantem-se estável semiologica- e imagiologicamente há 24 meses. Define-se AAP como uma dilatação de diâmetro superior a 40 mm. Estudos post-mortem estimam prevalência de 7/100.000. 1,2 Além da etiologia congénita, notavelmente associada a malformações da válvula pulmonar, existem causas adquiridas como infecção crónica, vasculites, conectivopatias, hipertensão pulmonar e TEP crónico. 3 São frequentemente assintomáticos. O aparecimento de dispneia, toracalgia, hemoptises ou choque circulatório, prende-se com agravamento da causa predisponente ou com ruptura. A conduta perante AAP não é linear. Primariamente devem controladas as causas predisponentes. A cirurgia recomenda-se na cardiopatia congénita, crescimento do AAP, persistência de hipertensão pulmonar ou surgimento de ruptura. 4,5 Ponderando risco cirúrgico, assinável no idoso, e estabilidade atingida com anticoagulação, decidiu-se pela estratégia conservadora.
Figura I

Radiografia póstero-anterior de tórax exibindo alargamento do mediastino para a esquerda (seta).
Figura II

Tomografia computorizada de tórax com contraste endovenoso mostrando aneurisma da artéria pulmonar com 65mm de diâmetro (seta) e múltiplos êmbolos arteriais periféricos.
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