A acalásia é uma doença primária motora esofágica de etiologia desconhecida1. Caracteriza-se manometricamente por contracções aperistálticas do corpo esofágico e diminuição do relaxamento do esfíncter esofágico inferior; radiograficamente por dilatação esofágica com aparência em “bico de lápis” e fraco esvaziamento do bário; e endoscopicamente por dilatação do esófago com retenção de saliva, líquidos e comida não digerida2. A acalásia é uma doença rara, com uma incidência de 1,63 por 100000 habitantes e prevalência de 10,82 por 100000 habitantes e que afeta igualmente ambos os sexos3. Os principais sintomas são secundários à estase alimentar: disfagia, regurgitação, toracalgia e emagrecimento4. O tratamento de eleição é a dilatação pneumática e a miotomia de Heller combinada com procedimentos anti-refluxo4.
Apresenta-se o caso de uma doente de 56 anos internada para estudo de quadro de astenia, anorexia, tosse e emagrecimento com 6 meses de evolução. Referia também queixas desde há 20 anos de disfagia mista e enfartamento pós-prandial, e por isso não valorizadas pela própria. Ao exame objetivo de realçar um índice de massa corporal de 14,7 Kg/m2. Realizou tomografia computorizada toraco-abdominal que revelou marcada dilatação do esófago em toda a sua extensão, preenchido por conteúdo hídrico, não se identificando causa obstrutiva aparente, sugestivo de acalásia. A endoscopia digestiva alta mostrou um esófago dilatado e aperistáltico, com alimentos abundantes. O trânsito esofágico confirmou o diagnóstico, com um megaesófago (Fig. 1), terminando distalmente em estenose em “bico de lápis” (Fig. 2) – aparência típica desta entidade e que motivou a apresentação do caso. Foi submetida a cardiomiotomia de Heller com fundoplicatura de Dor por laparoscopia, apresentando-se atualmente assintomática e tendo recuperado o peso.
Figura I

Trânsito esofágico a evidenciar uma dilatação do lúmen esofágico, sugestivo de megaesófago
Figura II

Trânsito esofágico mostrando a terminação distal do esófago em estenose em bico de lápis, típica de acalásia
BIBLIOGRAFIA
1. Farrokhi F, Vaezi MF. Idiopatic (primary) achalasia. Orphanet J Rare Dis. 2007; 2:38.
2. Vaezi MF, Pandolfino JE, Vela MF. ACG Clinical Guideline: Diagnosis and Management of Achalasia. Am J Gastroenterol. 2013;108:1238–1249.
3. Sadowski DC, Ackah F, Jiang B, Svenson LW. Achalasia: incidence, prevalence and survival. A population-based study. Neurogastroenterol Motil. 2010;22,e256–e261.
4. Boeckxstaens GE, Zaninotto G, Richter JE. Achalasia. Lancet. 2014;383:83–93.