A acalásia é uma doença motora do músculo liso do esófago, caracterizada pelo relaxamento insuficiente do esfíncter esofágico inferior e perda do peristaltismo 1-3. É uma doença rara com uma incidência de 1.6 casos por cada 100000 doentes, o diagnóstico é mais frequente entre os 25 e 60 anos e tem uma igual incidência em ambos os géneros. Resulta de uma degeneração inflamatória de neurónios do plexo mientérico do esófago, afetando o relaxamento do músculo liso. Apresenta-se classicamente com disfagia para sólidos e líquidos, dor torácica, regurgitação e perda ponderal1-3. O diagnóstico é confirmado pela manometria esofágica1. O tratamento consiste na dilatação por balão ou miotomia de Heller1-2. Nos casos com risco de rutura, a injeção de toxina botulínica é uma alternativa1,3.
Apresentamos o caso de um homem de 78 anos, com antecedentes de DPOC e etilismo, que recorreu ao serviço de urgência por um quadro de astenia, emagrecimento não quantificado e queixas de disfagia para sólidos e líquidos, com 1 mês de evolução. Realizou uma endoscopia digestiva alta, tendo-se objetivado a presença de abundante conteúdo alimentar no esófago não permitindo a visualização adequada.
Durante o internamento realizou uma tomografia computadorizada torácica que revelou a presença de acentuada dilatação de todo o esófago até à junção gastro esofágica (Fig. 1). Realizou também um trânsito esofágico que foi sugestivo de acalásia (Fig. 2). Realizou posteriormente manometria do esófago, que confirmou o diagnóstico.
Dado o risco de rutura, optou-se pela injeção de toxina botulínica, com melhoria significativa das queixas.
O exame imagiológico de controlo revelou uma melhoria da passagem de contraste para o estômago.
O doente continuou o seguimento em ambulatório, mantendo-se sem disfagia e com ganho ponderal.
Este caso torna-se interessante pela idade do diagnóstico e pela necessidade de utilização de uma terapêutica alternativa, com excelente resultado para o doente.
(Artigo escrito segundo o novo acordo ortográfico)
Figura I

TC torácica: Acentuada dilatação de todo o esófago
Figura II

Transito esofágico com acentuada dilatação do esófago com ondas de contração terciárias, com estenose filiforme da sua porção terminal numa extensão de 45 mm, onde se observa área maior deposição baritada.
BIBLIOGRAFIA
1) Pohl, D, Tutuian M. Achalasia: an Overview of Diagnosis and Treatment. J Gastrointestin Liver Dis. September Vol.16 No 3, 297-303.
2) Hurst A. The treatment of achalasia of the cardia: so-called ‘cardiospasm’. Lancet 1927;1:618.
3) Pasricha PJ, Ravich WJ, Hendrix TR, Sostre S, Jones B, Kalloo AN.Intrasphincteric botulinum toxin for the treatment of achalasia. N Engl J Med 1995;332:774-778.