Os autores apresentam o caso de uma mulher de 40 anos, hipertensa e usuária de cocaína que recorre ao Serviço de Urgência (SU) por dor retroesternal súbita e intensa com dispneia associada.
Estava vígil, hipertensa (TA: 187/103 mmHg) com diferença de tensão arterial superior a 20 mmHg nos membros direitos, frequência cardíaca de 68 batimentos por minuto, eupneica. D-Dímeros de 3307 ng/ml e telerradiografia do tórax com alargamento do mediastino.
Angio-TC-Torácica confirmou disseção da aorta tipo Stanford A envolvendo a aorta ascendente e terminando na região distal da crossa da aorta, com aneurisma e hematoma na porção inicial do canal de disseção. (fig. 1 e 2)
Aquando da apresentação esta patologia tem uma mortalidade de 40%, percentagem que sobe 1% a cada hora. Ainda assim, não é diagnosticada na apresentação inicial em 15-43% dos casos. (1)
Fatores de risco incluem a hipertensão arterial, válvula aórtica bicúspide, uso de estimulantes especialmente cocaína, gravidez, vasculite e algumas conectivopatias. (1)
D-Dímeros inferiores a 500 ng/ml nas primeiras 24h do inicio dos sintomas correspondem a um valor preditivo negativo de 95%. (2)
As classificações usadas são a de Stanford e a DeBakey e o envolvimento da aorta ascendente (tipo A e tipo I e II respetivamente) requer tratamento cirúrgico emergente, na descendente está indicado o tratamento médico. (2)
Os beta-bloqueantes ou bloqueadores dos canais de cálcio são usados para o controlo tensional. (3)
O ecocardiograma representa um instrumento não invasivo, acessível e fundamental na avaliação de dor torácica e na celeridade do diagnóstico de disseção tipo A. Com uma sensibilidade de 90-98%, permite a visualização de um retalho da íntima ondulante dentro do lúmen da aorta, bem como a presença de derrame pericárdico ou insuficiência aórtica. (4)
A dor retroesternal é frequente no SU e o diagnóstico atempado é essencial na sobrevida dos doentes.
Figura I

Angio-TC Torácica após injeção de contraste iodado, falso lúmen porção anterior da crossa da aorta
Figura II

Angio-TC Torácica, corte sagital, disseção aorta Stanford tipo A e hematoma/coágulo na região proximal da aorta ascendente.
BIBLIOGRAFIA
1) Reuben J. Strayer, Peter L. Shearer, Luke K. Hermann. Screening, evaluation, and early management of acute aortic dissection in the ED. Current Cardiology Review, 2012, 8, 152-157. 2) Alan C. Braverman. Acute aortic dissection clinician update. Circulation AHA, 2010:122:184-188. 3) Christoph A. Nienaber, Kim A. Eagle. Aortic dissection: new frontiers in diagnosis and management; Part II: Therapeutic management and follow-up. Circulation AHA, 2003:108:722-778. 4) Peter Alter, Matthias Herzum, Bernhard Maisch. Echocardiographic Findings Mimicking Type A Aortic Dissection. Herz 2006; 31:153-5.