MEDICINA EM IMAGENS
Mulher de 78 anos que iniciou quadro com cinco meses de evolução, caraterizado por aumento do perímetro abdominal, sensação de enfartamento precoce, astenia, anorexia e perda ponderal superior a 10% do peso habitual. Sem história de traumatismo ou cirurgia recentes.
Ao exame objetivo a doente apresentava ascite de grande volume, sem outras alterações significativas. Líquido ascítico de aspeto leitoso e com níveis elevados de triglicerídeos (407mg/dL). Tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica com ascite de grande volume e visualizando-se pequena área de espessamento focal do grande epiplon na região do hipocôndrio esquerdo (figura 1), sem outros achados, nomeadamente nos ovários. Estudo endoscópico alto e baixo sem alterações. Quando foi realizada a F-18 fluorodeoxyglucose-positron emission tomography/computed tomography (PET/CT) foi possível identificar espessamento e hiperfixação em vários locais do peritoneu (figura 2), compatível com carcinomatose peritoneal.
Cultura para micobactérias negativa e citologia do líquido ascítico com identificação de células neoplásicas compatíveis com adenocarcinoma papilar seroso.
Segundo os critérios de Gynecology Oncology Group1, na ausência de lesões ováricas, e dado o espessamento marcado do peritoneu com captação na PET/CT, associado a uma citologia característica, foi feito o diagnóstico presuntivo de adenocarcinoma papilar seroso primário do peritoneu.
Depois de discutida em consulta de grupo de Oncologia, a doente iniciou quimioterapia. No entanto, apresentou evolução desfavorável. Veio a falecer um mês após o diagnóstico, com desnutrição grave e na sequência de múltiplas complicações infeciosas.
A ascite quilosa é um achado raro com incidência de aproximadamente 1 em 20,000 admissões2, associando-se mais frequentemente a neoplasias. Contudo, a associação com carcinoma primário do peritoneu é raro. Este tumor é histologicamente similar ao adenocarcinoma papilar seroso do ovário, tornando a diferenciação, por vezes, difícil. A PET/CT é um meio de diagnóstico importante para deteção e caracterização da carcinomatose peritoneal e pode ser importante para diferenciar estes tipos de tumores3.
Figura I

Tomografia computorizada a mostrar ascite de grande volume, visualizando-se pequena área de espessamento focal, identificada pela seta
Figura II

PET/CT mostra hiperfixação em vários locais do peritoneu
BIBLIOGRAFIA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Bloss JD, Liao SY, Buller RE, et al. Extraovariaan peritoneal serous papillary carcinoma: A case-control retrospective comparison to papillary adenocarcinoma of the ovary. Gynecol Oncol 50: 347-351, 1193
2. Al-Busafi SA, Ghali P, Deschênes M, et al. Chylous ascites: Evaluation and management. ISRN Hepatol. 2014 Feb 3;2014:240473
3. Li J, Yan R, Lei J, et al. Comparison of PET with PET/CT in detecting peritoneal carcinomatosis: a meta-analysis. Abdom Imaging. 2015 Oct;40(7):2660-6.
4. Steinemann DC, Dindo D, Clavien PA, et al. Atraumatic chylous ascites: systematic review on symptoms and causes. J Am Coll Surg. 2011;212(5):899.