Os abcessos pulmonares são cavidades necróticas no parênquima pulmonar, superiores a 2 cm de maior diâmetro, secundárias a infeções bacterianas. (1, 2) Os agentes bacterianos causadores são normalmente anaeróbios ou flora mista do trato respiratório inferior, referindo-se o Streptococcus pneumoniaecomo o mais frequente. (3, 4)
Descreve-se o caso de um doente de 57 anos, com antecedentes de hipertensão arterial e tabagismo (20 UMA), admitido no serviço de urgência por quadro de febre, tosse com expetoração purulenta, dispneia e astenia com 8 dias de evolução. Ao exame objetivo encontrava-se consciente, eupneico em ar ambiente, à auscultação taquicárdico com murmúrio vesicular globalmente diminuído e crepitações na base pulmonar direita.
Por agravamento clinico com instalação de insuficiência respiratória global e necessidade de ventilação mecânica invasiva, foi transferido para unidade de cuidados intensivos com o diagnóstico de pneumonia hipoxemiante. Boa evolução clínica, sob antibioterapia com ceftriaxone e azitromicina, por via endovenosa, que cumpriu por 7 dias, com apirexia ao 3º dia de tratamento e extubação ao 6º dia. Dos exames microbiológicos: serologias para Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae negativas, vírus respiratórios negativos, antigenúria para Legionella pneumophila serogrupo 1 negativa (antigenúria para Streptococcus pneumoniae não disponível), serologia para VIH negativa, hemoculturas negativas e exame cultural da expetoração positivo com isolamento de Strepcococus pneumoniae.
Ao 10º dia de internamento reiniciou febre, com crepitações de novo na base direita à auscultação pulmonar e a teleradiografia de tórax revelou hipotransparência basal à direita, com aparente nível hidroaéreo (Fig. 1), confirmando-se em tomografia axial computarizada extensa condensação pulmonar com broncograma aéreo envolvendo o lobo inferior direito, com distribuição desde o segmento superior até à região basal, apresentando zonas necróticas com formação de abcessos (Fig. 2). Medicado com clindamicina durante 4 semanas com melhoria clínica e imagiológica.
Figura I

Teleradiografia de tórax - hipotransparência na base direita, com aparente nível hidroaéreo.
Figura II

Tomografia axial computarizada do tórax - condensação pulmonar com broncograma aéreo no lobo inferior com zonas necróticas abcedadas.
BIBLIOGRAFIA
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