A orbitopatia ligada à patologia da tiroide está habitualmente associada a doença de Graves (80% dos casos). No entanto, pode surgir em outras formas de doença tiroideia, nomeadamente em doentes com hipotiroidismo (10% dos casos) [1], particularmente na presença de tiroidite de Hashimoto. Apresentamos um caso de um homem de 60 anos, com antecedentes de colite ulcerosa, sem outros problemas de saúde ou hábitos tabágicos. Referia fadiga, sonolência, áreas de rarefação pilosa a nível da face e diplopia vertical, indolor, de instalação súbita, com 2 meses de evolução. Ao exame objetivo apresentava palidez cutânea, exoftalmia à direita (sem sinais inflamatórios oculares), sem outras alterações. Os estudos oftalmológicos revelaram ausência de doença macular. TAC das órbitas revelou hipertrofia acentuada dos músculos reto inferior e reto interno, da órbita direita, com proptose ocular, compatível com oftalmopatia tiroideia (figura 1), sem outras alterações nomeadamente do componente tendinoso muscular. Analiticamente: TSH=102,41μUI/mL (0,55-4,78); T4 livre=0,35ng/dL (0,89-1,76); anticorpos anti-tiroglobulina <15UI/mL (<60) e anti-peroxidase=3882UI/mL (<60), anticorpos anti-receptor da TSH=1UI/L (<1,6) pelo método de electroquimioluminescência (sensibilidade 96%; especificidade 99%). Ecografia da tiróide demonstrou glândula de dimensões normais, com estrutura heterogénea e sem nódulos. Iniciou terapêutica com levotiroxina sódica 75µg/dia e prednisolona 1mg/kg/dia (60mg/dia), com redução progressiva de dose. Três meses depois, referia melhoria franca, sem astenia, barba menos rarefeita, referindo apenas diplopia após alguns minutos de manter o olhar numa determinada direção. Ao exame objetivo apresentava-se corado e com discreta exoftalmia à esquerda. Analiticamente: TSH=0,57μUI/mL (0,34-5,6); T4 livre=12,5pmol/L (7,9-14,4). TAC das orbitas revelou musculatura extraocular com densitometria e morfologia normal (figura 2). Na orbitopatia associada ao hipotiroidismo além do tratamento adequado com levotiroxina, pode ser necessária corticoterapia (nos casos de doença ativa) ou cirurgia (nos casos de doença inativa). O tratamento deve ser instituído rapidamente de forma a minimizar as alterações estéticas, psicológicas ou mesmo a perda da visão [2, 3].
Figura I

Presença de hipertrofia acentuada do músculo reto inferior e, em menor grau, do reto interno na orbita direita, com proptose ocular.
Figura II

Musculatura extraocular, nervos ópticos e veias oftálmicas superiores com normal densitometria, morfologia e calibre.
BIBLIOGRAFIA
1- Bartalena L, Baldeschi L et al. The 2016 European Thyroide Association/European Group on Graves´ Orbitopathy Guidelines for the Management of Graves´ Orbitopathy. European Thyroid Journal 2016; 5(1):9-26.
2- McAlinden C. An overview of thyroid eye disease. Eye and Vision 2014, 1:9.
3- Maheshwari R, Weis E. Thyroid associated orbitopathy. Indian Journal of Ophthalmology 2012; 60(2): 87-93.