Depois dos 50 anos de idade, a prevalência de pólipos adenomatosos é de aproximadamente 25%1, sendo 10% adenomas vilosos.2 Destes, apenas 3% são hipersecretores, condicionando diarreia crónica e desequilíbrios electrolíticos potencialmente graves.3
Apresenta-se o caso clínico de uma mulher, de 78 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e doença renal crónica estadio 3b, admitida no serviço de urgência (SU) por anorexia, náuseas e tonturas com um mês de evolução. Referia nos dois anos prévios episódios muito frequentes de dejecções líquidas, com muco, sem sangue, que alternavam com períodos de trânsito intestinal normal. Objectivamente, foi identificada, ao toque retal, presença de lesão pediculada palpável na ampola retal, móvel, com drenagem abundante de muco. Do estudo complementar realizado na admissão destaca-se anemia normocítica (Hgb-8.9g/dL, VGM-91.5fL, CHCM-33.1g/dL), agudização da doença renal (creatinina-4.18mg/dL), hiponatrémia (Na+-130mmol/L) e hipoproteinemia (proteínas totais-5.1g/dL).
Foi decidido internamento para correcção das alterações hidroeletrolíticas apresentadas e estudo etiológico de diarreia crónica.
Realizou colonoscopia que mostrou no retossigmóide, entre os 5-17cm, lesão polipóide plana, a envolver metade do lúmen, com secreção de grande quantidade de muco (Fig. 1 e 2). Atendendo à sua dimensão, não foi passível de ressecção endoscópica. A RM pélvica mostrou lesão parietal na vertente anterior do reto, a 8cm do rebordo anal, com cerca de 55mm de extensão, de contornos irregulares.
Face à dimensão da lesão retal, o risco de transformação maligna e repercussão clínica e analítica, foi submetida a ressecção anterior do reto e o resultado anatomo-patológico foi compatível com adenoma viloso de 5.5cm, sem sinais de displasia de alto grau.
A excisão completa destas lesões é mandatória, pois 50% têm diagnóstico histológico incorrecto na biópsia antes da exérese, sendo que em 13% dos casos há um diagnóstico definitivo de carcinoma.4
Figura I

Imagem endoscópica onde se observa, na vertente anterior do reto, lesão polipóide plana a envolver metade do lúmen.
Figura II

Imagem ampliada da lesão polipóide onde se observa grande produção de muco.
BIBLIOGRAFIA
1) Roriz-Silva R, Andrade A, Ivankovics I. Giant rectal villous adenoma: Surgical approach with rectal eversion and perianal coloanal anastomosis. Int J Surg Case Rep. 2014; 5(2): 97–99
2) Moya P, Ruiz L, Torres J, Polo F et al. Insuficiencia renal aguda y diarrea crónica: Síndrome de Mckittrick-Wheelock. Acta Gastroenterol Latinoam. 2012; 42:56-58
3) Agnes A, Novelli D, Battista G, Papa V. A case report of a giant rectal adenoma causing secretory diarrhea and acute renal failure: McKittrick-Wheelock syndrome. BMC Surger. 2016; 16:39
4) Sungeyun D, Herzig D, Douthit M et al.Treatment Strategies and Outcomes for Rectal Villous Adenoma From a Single-Center Experience. Arch Surg. 2008;143(9):866-872