A hidatidose é uma doença parasitária provocada por várias espécies de helmintas do género Echinococcus, sobretudo Echinococcus granulosus. A transmissão para o humano ocorre acidentalmente por contágio oral/fecal com animais contaminados (principalmente canídeos). O parasita continua o seu ciclo biológico no interior do organismo humano, levando à formação de quistos hidáticos1. Portugal encontra-se entre os países considerados pela OMS como endémicos, com uma incidência nacional estimada de 2,2/100000 habitantes2, mas um estudo realizado no Alentejo mostrou que o distrito de Évora apresenta uma das mais elevadas incidências mundiais de hidatidose: 50,1 casos/100 000 habitantes/ano3. O fígado é o órgão mais frequentemente envolvido, seguido dos pulmões, baço, rim, cérebro e mama4. O quisto hidático hepático pode complicar em 40% dos casos. As complicações mais comuns são infeção, rutura para a árvore biliar, cavidade peritoneal ou cavidade pleural5.
Mulher, 82 anos, ex-agricultora, antecedentes de hipertensão arterial, fibrilhação auricular, insuficiência cardíaca e obesidade, que recorreu ao Serviço de Urgência por cansaço para pequenos esforços, dispneia, anorexia e dor no hipocôndrio direito. Ao exame objetivo de destacar hipotensão, turgescência jugular, auscultação cardíaca com bradiarritmia e pulmonar com crepitações, dor à palpação abdominal e edema dos membros inferiores. Analiticamente apresentava leucocitose, elevação da proteína C reativa e do BNP e lesão renal aguda. Foi internada por insuficiência cardíaca descompensada por infeção respiratória, atribuindo-se as queixas abdominais a fígado de estase. Realizou ecografia abdominal que revelou lesão abcedada hepática (12x9 cm), com conteúdo heterogéneo, sugestiva de quisto hidático (Figura 1). A tomografia computorizada revelou volumosa formação quística hepática capsulada e multisseptada, com bolhas de ar no seu interior, em continuidade com uma coleção de caraterísticas semelhantes, de localização extra-hepática (adjacente à vertente anterior do fígado, envolvendo também a parede abdominal anterior, condicionando algum abaulamento da mesma), medindo no seu conjunto 12,1x10,6x9,6 cm, sugestivo de quisto hidático complicado – aparentemente sobre-infetado e com sinais de ruptura (Figura 2). A serologia para Echinococcus foi positiva. Foi submetida a terapêutica médica e drenagem percutânea.
Figura I

Ecografia abdominal a mostrar lesão hepática sugestiva de quisto hidático.
Figura II

Tomografia computorizada abdominal a revelar quisto hidático hepático sobre-infetado e com sinais de rutura.
BIBLIOGRAFIA
1.Monteiro A, Vaz PS, Usurelu S, Correira S, Rainho R, Valencia L, Loureiro A. Hidatidose Hepática: Apresentação Clínica, Conduta e Terapêutica. Rev Sau Amat Lus. 2011; 29:26-27.
2. Eckert J, Gemmell MA, Meslin F-X, Pawlowski ZS. WHO/OIE Manual on Echinococcosis in Humans and Animals: a Public Health Problem of Global Concern. WHO. 2002.
3. Morais D. Hidatidose Humana - Estudo Clínico-Epidemiológico no Distrito de Évora Durante um Quarto de Século. Acta Med Port. 2007. 20: 1-10.
4.Mihmanli M, Idiz UO, Kaya C, Demir U, Bostanci O, Omeroglu S, Bozkurt E. Current status of diagnosis and treatment of hepatic Echinococcosis. World J Hepatol. 2016; 8(28): 1169-1181.
5.Derbel F, Mabrouk MB, Hamida MBH, Mazhoud J, Youssef S, Ali AB, et al. Hydatid Cysts of the Liver – Diagnosis, Complications and Treatment. Chapter 5. In: Derbel F, editors. Abdominal Surgery. InTech; 2012. 105-138.