A lombalgia constitui um motivo frequente de consulta. O facto de apenas 1% das lombalgias crónicas serem originadas por neoplasias faz com que muitas vezes a investigação etiológica não seja feita1. Apresenta-se um caso de uma mulher de 76 anos, seguida na Consulta da Dor por lombalgia refratária à terapêutica analgésica. Foi referenciada à consulta de Medicina Interna por lombalgia com 2 anos de evolução, sem trauma prévio e com características mistas. A lombalgia evoluiu com diminuição progressiva de força muscular a nível dos membros inferiores e à data da consulta usava bengala para auxilio da marcha. Queixava-se ainda de obstipação e sensação de esvaziamento incompleto vesical. Do exame objetivo destacava-se tumoração na região lombo-sagrada de limites indefinidos, dura, imóvel e indolor a palpação (Fig. 1) e paraparésia a nível dos membros inferiores grau 4+, com reflexos preservados. Laboratorialmente apresentava hemograma, creatinina, eletroforese proteica, velocidade de sedimentação e marcadores tumorais normais.
A tomografia axial computorizada (TC) lombar e da bacia (Fig. 2) revelou na porção do sacro abaixo da S3, volumosa massa osteolítica em situação mediana com 85mm de diâmetro, contornos irregulares e estendendo-se às partes moles das estruturas parietais da bacia em situação adjacente e anteriormente o reto por compressão extrínseca. A biópsia mostrou positividade para citoqueratinas EMA, CK 19 e para S100 confirmando o diagnóstico de cordoma2.
O cordoma é um tumor ósseo muito raro. Representa cerca de 1-4% de todos os tumores ósseos malignos3, que se origina do remanescente da notocorda primitiva, a região sacral é o local mais comum (50%) 4.Os cordomas são localmente agressivos condicionando compromisso neurológico e destruição óssea5. Estes tumores são, de facto, pouco sensiveis à quimioterapia e à radioterapia, mas já está documentada resposta a novos agentes dirigidos a alvos moleculares, como Imatinib e Sunitinib.
Figura I

Tumoração na região lombo-sagrada de limites indefinidos, dura e imóvel.
Figura II

TC : Com localização pré-sagrada e nomeadamente na porção do sacro localizada abaixo da S3 observa-se volumosa massa osteolítica em situação mediana e mede 85mm de diâmetro com características habituais de um cordoma .A massa tem contornos irregulares e estende-se às partes moles das estruturas parietais da bacia em situação adjacente e anteriormente desvia o recto por compressão extrínseca
BIBLIOGRAFIA
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2 Mirra JM, Nelson SD, Della Rocca C,Mertens F.Notochordal Tumours,Chapter 17.In: Christopher Fletcher, K. Krishnan Unni, Fredrik Mertens ,editors. Pathology and Genetics of Tumours of Soft Tissue and Bone,Lyon:IARC press, 2002.p.214-217
3 Bhadra AK, Casey ATH. Familial chordoma: a report of two cases. J Bone and Joint Surg 2006; 88-B (5): 634-636.
4 GHEZZI, Tiago Leal; PEREIRA FILHO, Gustavo; CIGERZA, Giuliano Chemale and CORLETA, Oly Campos. Cordoma Sacrococcígeo gigante: relato de caso.Rev bras. colo-proctol.[online]. 2009, vol.29, n.2 , pp.233-236
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