Os autores descrevem o caso de um estudante de Medicina de 21 anos, sem antecedentes de relevo, não fumador. Iniciou subitamente dor na base do pescoço que agravava com os movimentos respiratórios, crepitação à palpação do pescoço, auto auscultou-se e notou um atrito síncrono com os batimentos cardíacos.
Recorreu ao Serviço de Urgência do hospital onde estuda, realizou radiografia de tórax, electrocardiograma e estudo analítico com indicação de não apresentarem alterações.
No dia seguinte, por manter queixas, recorreu a outro Serviço de Urgência, onde realizou radiografia de tórax (Fig. 1) e tomografia computorizada (TC) de tórax (Fig. 2) que mostraram extenso pneumomediastino. Não foi identificado nenhum factor predisponente.
Foi internado para vigilância, tendo ficado em repouso e realizado oxigenoterapia. Repetiu TC Tórax ao 5º dia com melhoria franca.
O pneumomediastino caracteriza-se pela presença de ar no mediastino e divide-se em espontâneo e secundário1,2. O primeiro geralmente resulta da ruptura de um alvéolo por um aumento da pressão intra-torácica sendo exemplos disso a tosse vigorosa ou a manobra de valsalva3. O segundo deve-se a trauma, cirurgia ou manipulação do sistema digestivo/ tracto respiratório1.O pneumomediastino espontâneo é um diagnóstico que pode passar despercebido pela sua raridade, por ser uma entidade pouco reconhecida e pelo facto de as queixas serem comuns a outros diagnósticos4. Ocorre predominantemente em homens jovens e habitualmente não se identifica um factor precipitante claro2,3,4. A radiografia de tórax é o exame inicial a solicitar, contudo numa pequena percentagem podem não ser evidentes alterações1,3,4. Destaca-se o papel da tomografia computorizada de tórax, não só no diagnóstico, como também na exclusão de causas secundárias3. O pneumomediastino espontâneo é auto-limitado, pelo que não necessita de procedimentos diagnósticos invasivos3. O risco de recorrência é muito baixo1,4.
Figura I

Fig. 1: Radiografia de tórax onde é visível pneumomediastino com delimitação linear da pleural parietal (setas brancas) e hiperlucências a nível cervical - haystack sign (setas vermelhas)
Figura II

Fig. 2: TC Tórax com extenso pneumomediastino, com delimitação pelo ar das estruturas do mediastino
BIBLIOGRAFIA
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4) Dionísio P, Martins L, Moreira S, Manique A, Macedo R, Caeiro F et al. Spontaneous pneumomediastinum: experience in 18 patients during the last 12 years. J Bras Pneumol. 2017;43:101-105