Apresentamos o caso de uma disseção aórtica (DA) tipo A de Stanford diagnosticada num doente do sexo masculino, 83 anos, com antecedentes de Diabetes mellitus tipo 2. O doente encontrava-se a trabalhar na agricultura quando iniciou dor retroesternal súbita, intensa, com irradiação para a região lombo-sagrada e membros inferiores (MIs). À admissão no Serviço de Urgência apresentava dor intensa (Escala Numérica da Dor 10/10), pressão arterial 148/72 mmHg, frequência cardíaca 82 bpm, frequência respiratória 26 cpm, temperatura auricular 34,5ºC e saturação arterial periférica 98%. Auscultação cardíaca revelou hipofonese dos sons cardíacos. Ambos MIs encontravam-se pálidos, com ausência do pulso femoral direito e poplíteos, tibiais e pediosos bilateralmente.
A tomografia computorizada confirmou DA tipo A desde a válvula aórtica prolongando-se até às artérias ilíacas, com trombose da artéria mesentérica superior, artéria renal esquerda, ilíaca comum direita e esquerda e femoral esquerda. Identificadas áreas de enfarte a nível do parênquima hepático e esplénico. O ecocardiograma transtorácico revelou derrame pericárdico moderado. Realizou analgesia com morfina e foi transferido de emergência para hospital com Cirurgia Cardiotorácica, tendo apresentado desfecho fatal antes de ser submetido a cirurgia.
Há várias formas de apresentação de DA, mas o início súbito de dor torácica, anterior ou posterior, lancinante, com intensidade máxima no início da dor, é a apresentação mais típica.1,2 A hipertensão arterial é considerada o principal fator de risco de DA estando presente em 80% dos casos.3
A classificação mais frequentemente utilizada é a Classificação de Stanford que considera as disseções aórticas que envolvem a aorta ascendente como tipo A e todas as outras disseções como de tipo B.4 A ausência de pulsos pode ocorrer em cerca de 30% dos doentes com DA tipo A e em 15% dos doentes com DA tipo B, sendo que a isquemia dos MIs é rara.5
Figura I

Disseção aórtica tipo A de Stanford – corte sagital demonstrando disseção envolvendo a aorta ascendente e descendente
Figura II

Corte axial sendo possível visualizar trombose da artéria renal esquerda (setas) com enfarte de praticamente todo o parênquima renal (asterisco)
BIBLIOGRAFIA
1. Yang B, Patel HJ, Williams DM, et al. Management of type A dissection with malperfusion. Ann Cardiothorac Surg. 2016 Jul; p. 265–274.
2. Barman M. Acute aortic dissection. E-Journal of Cardiology Practice. 2014 Jul; 12(25).
3. Gawinecka J, Schönrath F, von Eckardstein A. Acute aortic dissection: pathogenesis, risk factors and diagnosis. Swiss Med Wkly. 2017 Sep; 5(145).
4. Levy D,. StatPearls. [Online]. 2017 [citado 2017 Set 22. Disponível em: http://knowledge.statpearls.com/chapter/0/20603/.
5. The Task Force for the Diagnosis and Treatment of Aortic Diseases of the European Society of Cardiology. 2014 ESC Guidelines on the diagnosis and treatment of aortic diseases. European Heart Journal. 2014; 35: p. 2873–2926.