A dolicoectasia intracraniana é uma anomalia vascular pouco frequente (1). Descreve-se como uma dilatação, alongamento e tortuosidade das artérias intracranianas. As artérias basilares e vertebrais são as mais frequentemente afetadas. As manifestações clínicas dependem do território vascular afetado, do tamanho do aneurisma, da compressão das estruturas adjacentes e de eventuais quadros isquémicos focais (2,3). O diagnóstico é fornecido pela Tomografia Computorizada Cranioencefálica (TC CE), Angiografia (Gold Standard) e a Ressonância Magnética (RM) (4). Entre as opções terapêuticas estão a cirurgia e o tratamento de suporte. Nos doentes com quadros isquémicos, após exclusão de aneurismas saculares e confirmação de limitação da patologia à artéria basilar, esta indicado o início de hipocoagulação (5). O prognóstico é reservado pela elevada taxa de recorrência, morbilidade e mortalidade (3).
Apresenta-se o caso de um homem de 76 anos, hipertenso, que recorre ao serviço de urgência por um quadro de disartria, desequilíbrio e hemiparesia direita de instalação súbita. No exame físico destaca TA 173/98 mmHg e no exame neurológico sumario; disartria, desvio da comissura labial à esquerda, parestesias no membro superior direito e ataxia da marcha. A TC CE (Fig 1) mostrou um mega-dólico basilar (14 mm de diâmetro máximo) e ausência de imagens sugestivas de enfarte isquémico agudo ou lesões hemorrágicas. A RM CE evidenciou uma lesão lacunar isquémica recente da vertente paramediana da protuberância à esquerda, trajeto dólico-ectásico das artérias carótidas internas e sobretudo da artéria basilar, condicionando moldagem do bolbo raquidiano e da protuberância. O Angio-TC do polígono de Willis (Fig 2) descrevia acentuado megadólico basilar de aspeto fusiforme e trombo parietal, não condicionando estenose significativa.Ao longo do ano, o doente teve dois internamentos mais por novos eventos isquémicos apesar estar anticoagulado com varfarina.
A dolicoectasia da artéria basilar é um fator de risco independente para AVC isquémico, no entanto, estes doentes têm simultaneamente risco elevado de complicações hemorrágicas (3). Esta dualidade pode implicar um dilema na decisão terapêutica.
Figura I

Tomografia computarizada cranioencefálica
Figura II

Angiografia por TC do Polígono de Willis
BIBLIOGRAFIA
1. Passero S, Filosomi G. Posterior circulation infarcts in patients with vertebrobasilar dolichoectasia. Stroke 1998; 29:653-659.
2. Passero S, Rossi S. Natural history of vertebrobasilardolichoectasia. Neurology 2008; 70: 66-72.
3. Titlic M, Tonkic A, Jukic I, Kolic K, Dolic K. Clinical manifestations of vertebrobasilar dolichoetasia. Bratisl Lek Listy 2008; 109 (11): 528-530.
4. Ubogu EE, Zaidat OO. Vertebrobasilar dolichoectasia diagnosed by magnetic resonance angiography and risk of stroke and death: a cohort study. J Neurol Nerurosurg Psychiatry 2004; 75: 22-26.
5. Arenas C, Martinez E, gil A et al. Repeated strokes in a patient with a basilar artery aneurysm. RevNeurol. 2001;4:335-8.