Aneurismas aórticos infetados são uma condição clínica associada a elevada morbimortalidade. Podem apresentar-se como hemoptises, causadas pela erosão do parênquima pulmonar.1 Mulher, 79 anos, antecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, hipopituitarismo iatrogénico e pseudoaneurisma da aorta descendente, corrigida com endoprótese em 2010. Recorreu ao serviço de urgência, por astenia e perda ponderal (10% do peso total), com 3 meses de evolução, associado a hemoptises de pequeno volume. Hemoglobina 8.9g/dL, plaquetas e estudo da coagulação normais. Insuficiência respiratória hipoxémica. Angio-TC torácica revelou hematoma do saco aneurismático (Fig.1), traduzindo endoleak tipo 2, sem indicação cirúrgica urgente. Admitida em unidade de cuidados intermédios. Manteve hemoptises de pequeno volume. Repetiu angio-TC que identificou processo infecioso/abcesso da parede aórtica peri-prótese, associado a áreas de necrose do parênquima do lobo inferior esquerdo (Fig.2), o que parece explicar a origem das hemoptises. Face à suspeita de aortite com prováveis abcessos da parede arterial, como complicação tardia do procedimento, e pneumonia por contiguidade, iniciado empiricamente pipracilina/tazobactam e linezolide. A broncofibroscopia identificou abaulamento (compressão extrínseca?) da porção terminal do brônquio principal esquerdo. Identificado SAMR no lavado, sendo suspensa a piperacilina/tazobactam. Apresentou melhoria clínica, com diminuição do volume e frequência das hemoptises e resolução da insuficiência respiratória.
Endoleak tipo 2 pode ser diagnosticado anos após a cirurgia, o seu risco de rutura é baixa, pelo que apenas vigilância é recomendada. Os microorganismos mais frequentemente associados a aneurismas aórticos infetados são Staphylococcus spp e Salmonella spp.2 Não existem estudos randomizados que guiem o tratamento, no entanto, o padrão consiste em antibioterapia (vancomicina associada a ceftriaxone ou piperacilina/tazobactan), combinada com desbridamento cirúrgico agressivo do tecido infetado e reconstrução vascular.3Nos doentes sem condições cirúrgicas recomenda-se antibioterapia isolada, permanecendo a dúvida quanto à sua duração. 4 Este caso demonstra a complexidade do tratamento quando o controlo de foco não é possível.
Figura I

Figura 1. Evolução do aneurisma aórtico - pseudoaneurisma corrigido em 2012 (seta branca), hematoma do saco aneurismático em 2016 (setas brancas preenchidas).
Figura II

Figura 2. Abcesso da parede aórtica periprotésica (seta branca) e necrose do parênquima do lobo pulmonar inferior esquerdo (seta preta).
BIBLIOGRAFIA
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3. Wilson WR, Bower TC, Creager MA, Amin-Hanjani S, O´Gara PT, Lockhart PB, et al. Vascular Graft Infections, Mycotic Aneurysms, and Endovascular Infections: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation. 2016 Nov 15;134(20):e412-e60. PubMed PMID: 27737955.
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