A trombose venosa cerebral (TVC) e do seio dural são menos comuns do que a maioria dos outros tipos de acidente vascular cerebral. 1 É mais comum nas mulheres que nos homens.2 A apresentação clínica da TVC é altamente variável, o que torna o diagnóstico altamente desafiador.1 Apresentamos uma doente do sexo feminino, 51 anos, sem história médica prévia, não fumadora. Como medicação habitual, contracetivo oral com progesterona apenas. Recorreu ao serviço de urgência (SU) com quadro de desequilíbrio preferencialmente para a direita e cefaleia associada a náuseas, com 3 semanas de evolução. 1 semana antes, foi observada pelo seu médico de família que pediu uma TC-cranio-encefálica que era normal. No mesmo dia em que recorreu ao SU, desenvolveu diplopia, que não já não apresentava na admissão hospitalar. No exame físico apresentava papiledema bilateral e paresia do VI nervo craniano esquerdo. O restante exame neurológico era normal. Repetida TC-CE que mostrou trombose venosa superficial extensa do seio sagital superior, com hipertensão espontânea na TC pré-contraste (Figura 1), que foi confirmada pelo veno-TC. Admitida na unidade de AVC do nosso hospital e iniciou anticoagulação com heparina de baixo peso molecular e terapêutica antiemética. O estudo pro-trombótico e pesquisa de neoplasia oculta foram negativos, sendo a causa da TVC atribuível à medicação anticoncepcional. A doente apresentou resolução da diplopia, mas manteve visão turva e papiledema esquerdo, de modo que iniciou acetazolamida. Foi suspensa a terapêutica contraceptiva.
A TVC pode-se manifestar por sintomas de hipertensão intra-craniana isolada, como cefaleia, vómitos, papiledema e alterações visuais. 3,4 A terapêutica anti-concepcional é um dos factores de risco associados a esta patologia.5 Trata-se de uma entidade difícil de diagnosticar por ser pouco frequente, pelo que a suspeita clínica é muito importante, para um diagnóstico correto, melhorando assim o prognóstico do paciente.
Figura I

Figua 1 – Extensa trombose venosa superficial do seio sagital superior
BIBLIOGRAFIA
1. Saposnik, G., et al., Diagnosis and management of cerebral venous thrombosis: a statement for healthcare professionals from the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke, 2011. 42(4): p. 1158-92.
2. Ferro, J.M., et al., Prognosis of cerebral vein and dural sinus thrombosis: results of the International Study on Cerebral Vein and Dural Sinus Thrombosis (ISCVT). Stroke, 2004. 35(3): p. 664-70.
3. Biousse, V., A. Ameri, and M.G. Bousser, Isolated intracranial hypertension as the only sign of cerebral venous thrombosis. Neurology, 1999. 53(7): p. 1537-42.
4. Coutinho, J.M., et al., Cerebral venous thrombosis in the absence of headache. Stroke, 2015. 46(1): p. 245-7.
5. Martinelli, I., et al., High risk of cerebral-vein thrombosis in carriers of a prothrombin-gene mutation and in users of oral contraceptives. N Engl J Med, 1998. 338(25): p. 1793-7.