Estima-se que os aneurismas da aorta torácica (AAT) afetem cerca de 10 em cada 100.000 idosos, sendo mais frequentes e com maior risco de rutura em mulheres1. Podem ter várias etiologias, mas a aterosclerose é uma causa frequente. A sintomatologia pode ser variável desde assintomáticos até apresentações graves e emergentes2. O diagnóstico precoce e a intervenção terapêutica atempada podem determinar o prognóstico desta patologia3.
Descreve-se o caso de uma mulher de 73 anos, autónoma com antecedentes de dislipidemia e hipertensão arterial medicadas, e AAT intervencionado há vários anos, sem seguimento posterior.
A doente recorreu ao serviço de urgência por dispneia para pequenos esforços e ortopneia em agravamento progressivo, associada a tosse produtiva com expetoração mucosa. Negava febre e precordialgia. Ao exame objetivo apresentava-se hemodinamicamente estável, apirética, com auscultação cardio-pulmonar que revelava sopro sistólico grau III/VI no foco aórtico e crepitações a nível da metade inferior dos hemitorax bilateralmente, sem edema periférico. Os pulsos eram palpáveis distalmente nos 4 membros, embora mais fracos nos inferiores. O eletrocardiograma não apresentava alterações relevantes. A gasimetria arterial mostrou insuficiência respiratória hipoxémica e no estudo analítico destacava-se: hemoglobina 11.2g/dl, BNP 1234 pg/ml. A função renal e hepática eram normais e os marcadores de necrose miocardica eram negativos. A radiografia de tórax mostrou elevação da hemicupula esquerda, volumoso aneurisma da crossa e porção ascendente da aorta (figura1) e a tomografia computorizada de tórax evidenciou: “volumoso aneurisma sacular na dependência do contorno lateral da crossa da aorta, com trombo mural, medindo 151x99mm. Não se observam sinais de rutura. O aneurisma condiciona atelectasia do lobo superior esquerdo e provável paresia do nervo frénico com elevação da hemicupula diafragmática” (figura2).
A doente foi transferida para o Serviço de Cardiotorácica para decisão terapêutica, onde apresentou, no dia seguinte, hemoptises maciças, acabando por falecer.
Figura I

Radiografia do tórax postero-anterior a mostrar volumoso aneurisma da crossa da aorta e aorta ascendente, com atelectasia do pulmão adjacente. Elevação da hemicupula esquerda (seta preta). Material de sutura em posição anterior à traqueia, de provável cirurgia aórtica prévia (seta azul).
Figura II

Tomografia computorizada com contraste endovenoso, em corte axial (A) e sagital (B), a mostrar: “(…) volumoso aneurisma sacular na dependência do contorno lateral da crossa da aorta, medindo 151x99mm, com trombo mural (delimitado por setas vermelhas). Não se observam sinais de rutura. O aneurisma condiciona atelectasia do lobo superior esquerdo e provável paresia do nervo frénico com elevação da hemicupula diafragmática (…)”.
BIBLIOGRAFIA
1. Erbel R., Aboyans V., Boileau C. et al, Guidelines on the diagnosis and treatment of aortic diseases, European Heart Journal, 2014, 35, 2873–2926;
2. John A. Elefteriades, Emily A. Farkas, Thoracic Aortic Aneurysm: Clinically Pertinent Controversies and Uncertainties, Journal of the American College of Cardiology, 2010, 9 841-857;
3. Anna M. Booher, Kim A. Eagle, Diagnosis and management issues in thoracic aortic aneurysm, American Heart Journal, 2011, 38-46.e1.