Apresenta-se o caso de um doente do sexo masculino de 31 anos, natural da Guiné-Bissau, em Portugal há uma semana. Recorre ao Serviço de Urgência por diarreia desde há seis meses, uma a três dejecções líquidas por dia, não associadas a sangue, muco ou pus. Sem outras patologias conhecidas ou medicação habitual. Objectivamente não apresentava alterações relevantes. Realizou análises onde apresentava hipocaliemia (1.85mmol/L), as serologias demonstravam VIH 1 e 2 negativo, VHC negativo e contacto com VHB, mas sem doença activa. Durante o internamento foi colhido exame bacteriológico das fezes que se revelou negativo e exame parasitológico das fezes que revelou ovos de Ancylostomidae (Fig.s 1 e 2). Fez terapêutica com albendazol 400mg, toma única em jejum, com regressão das queixas.
A ancilostomíase é uma patologia causada principalmente por dois helmintas com distribuições geográficas diferentes (Ancylostoma duodenaleeNecator americanus).1,2,3
A infecção adquire-se através da exposição cutânea a larvas em solos contaminados por fezes humanas.1,2,3 Estima-se que 800 milhões de pessoas estejam infectadas por estes parasitas em todo o mundo.2 A maioria dos doentes são assintomáticos.3 Quando há manifestações clínicas, estas reflectem o ciclo de vida do parasita. Os doentes podem apresentar-se com lesões maculopapulares pruriginosas (penetração cutânea do parasita); tosse ou irritação faríngea (ciclo transpulmonar); sintomas gastrointestinais, como náusea, vómitos, dor epigástrica, flatulência e diarreia, e desnutrição crónica (migração das larvas para o intestino delgado).1,2,3 O diagnóstico deve ser suspeitado quando presentes os sintomas referidos anteriormente, história epidemiológica concordante e/ou eosinofilia não explicada por outra causa.2 A confirmação faz-se através do exame parasitológico das fezes, normalmente através da técnica de Kato Katz, e dada a baixa sensibilidade destes exames, em amostras seriadas.1,2 O tratamento é feito com anti-helmínticos: albendazol (400mg toma única em jejum), mebendazol (100mg de 12 em 12h durante três dias) ou pamoato de pirantel (11mg/Kg por dia durante três dias, sem exceder 1g/dia).2Medidas preventivas de higiene devem ser aplicadas.1,2
Figura I

Ovo de Ancylostomidae
Figura II

Ovo de Ancylostomidae
BIBLIOGRAFIA
1. Farrar J, et al. Manson’s Tropical Diseasses. 23.ª edição, 2014, 779-783;
2. Weller, PF. Hookworm infection. Uptodate. [accessed 31 Out 2017]. Available from: http://www.uptodate.com/contents/hookworm-infection;
3. Haburchak, DR. Hookworm disease. Medscape. [accessed 31 Out 2017]. Available from: https://emedicine.medscape.com/article/218805-overview.