O Micetoma é uma doença granulomatosa crónica, de etiologia infecciosa, endémica em vários países localizados imediatamente a norte da linha do equador, que atinge principalmente o tecido subcutâneo, a orofaringe (incluindo seios perinasais) e o aparelho geniturinário1. Apesar de ser mais frequentemente associado à infecção por fungos (eumicetoma), dependendo da região geográfica a etiologia bacteriana (actinomicetoma) pode ser predominante2,3.
OActinomyces meyerié uma bactéria filamentosa, anaeróbica, Gram positiva, causadora Actinomicose potencialmente invasiva4,5,6. A cultura de tecidos infectados é o melhor método para a identificação das espécies deActinomyces, permitindo estabelecer o diagnóstico etiológico4,6. O tratamento requer cursos longos (3 meses a 1 ano) de antibioterapia com beta-lactâmicos4,6.
Apresentamos o caso de uma doente do sexo feminino, 71 anos de idade, com antecedentes de macroadenoma da hipófise, parcialmente excisado em 2010. Em Janeiro de 2017 verifica-se aumento das dimensões do adenoma, condicionando hemianopsia bitemporal, pelo que a doente é submetida a nova intervenção neurocirúrgica. Contudo, no início do procedimento observa-se preenchimento do seio maxilar por material esverdeado sólido sugestivo de micetoma sinusal (Fig. 1). É enviada uma amostra para exame anatomopatológico (Fig. 2) e bacteriológico. A cirurgia é protelada e é iniciado antifúngico. Quatro dias depois a doente inicia quadro de febre e obstrução nasal. Nesse mesmo dia é obtido o resultado do exame microbiológico e histopatológico com identificação deActinomyces meyeri. Decide-se pelo prolongamento do internamento durante trinta dias para realização de antibioterapia com beta-lactâmico endovenoso. Após ponderação dorisco de disseminação ao sistema nervoso central durante uma nova intervenção cirúrgica, opta-se por manter antibioterapia oral durante mais cinco meses, ainda que à custa do agravamento da hemianopsia.
Este caso realça a extrema importância de estabelecer a etiologia de um micetoma (fúngica vs bacteriana) uma vez que o prognóstico e tratamento diferem substancialmente.
Figura I

À direita: aspecto macroscópico do Actinomicetoma. À esquerda: imagem de Tomografia Computorizada onde se observa preenchimento do seio maxilar esquerdo.
Figura II

À direita: produto biológico composto por extensas áreas de necrose, infiltrado inflamatório rico em neutrófilos e numerosos agregados de microorganismos. À esquerda: os agregados, em maior ampliação, são constituídos por microorganismos filamentosos e finamente ramificados que se dispõem como que em “raios de sol”, sendo morfologicamente compatíveis com Actinomyces spp.
BIBLIOGRAFIA
1. Welsh O, Vera-Cabrera L, Salinas-Carmona MC. Mycetoma.Clin Dermatol. 2007 Mar-Apr;25(2):195-202.
2. Bonifaz A, Tirado-Sánchez A, Calderón L, Saúl A, Araiza J, Hernández M, González GM, Ponce RM. Mycetoma: experience of 482 cases in a single center in Mexico.PLoS Negl Trop Dis. 2014 Aug 21;8(8):e3102
3. van Belkum A, Fahal A, van de Sande WW. Mycetoma caused by Madurella mycetomatis: a completely neglected medico-social dilemma. Adv Exp Med Biol. 2013; 764:179-89
4. Valour F, Sénéchal A, Dupieux C, Karsenty J, Lustig S, Breton P, et al. Actinomycosis: etiology, clinical features, diagnosis, treatment, and management. Infect Drug Resist. 2014 Jul 5;7:183-97.
5. Bonnefond S, Catroux M, Melenotte C, Karkowski L, Rolland L, Trouillier S, Raffray L. Clinical features of actinomycosis: A retrospective, multicenter study of 28 cases of miscellaneous presentations. Medicine (Baltimore). 2016 Jun;95(24):e3923
6. Silva RV , Apolinário D , Loureiro AS , GuimarãesF. Actinomicose com Pneumonia Organizativa, Piomiosite Cervical e Diparesia Braquial. Med Intern. 2016;Vol. 23, nº 4 (out. / dez. 2016), p. 39-41.