A Fibrilhação auricular (FA) é a arritmia cardíaca mais comum na prática clínica, identificada em 1-2% da população geral (1). Em Portugal está presente em 2,5% de indivíduos acima dos 40 anos, segundo estudo FAMA (2). A FA aumenta em cinco vezes o risco de acidente vascular cerebral (AVC) comparativamente a população da mesma idade em ritmo sinusal (3). A auricula e o apêndice auricular esquerdo são os locais bem reconhecidos de formação de coágulos nesses doentes, com maior risco de embolização sistémica.
Descreve-se um caso de uma mulher de 79 anos, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial primária. Admitida na enfermaria geral por pneumonia adquirida na comunidade. Durante o internamento desenvolveu queixas de palpitações, pelo que realizou eletrocardiograma que mostrou FA com resposta ventricular rápida. Após controlo farmacológico do ritmo/frequência, ficou hipocoagulada com um antagonista de vitamina K. Posteriormente realizou ecocardiograma transtorácica que relatou uma massa ecodensa na aurícula esquerda. Para melhor esclarecimento, foi submetida a ecocardiograma transesofágica que confirmou presença de um trombo organizado de grande dimensão no apêndice auricular esquerdo(Figura 1).Após 4 semanas de tratamento com antagonista de vitamina K (varfine), repetiu ecocardiograma TE sem evidencia de trombos (Figura 2).Evolução clinica favorável, sem eventos embolicos.
O apêndice auricular esquerdo é o local mais frequente de formação de trombos intracardíacos na FA (98%), facto que tem sido verificado em inúmeros estudos com base em autópsias, ecocardiograma transesofágico ou por inspeção direta intraoperatória, sendo esta localização mais frequente na FA não valvular (90%) do que na FA valvular (57%) (4). O ecocardiograma transesofágico é o exame de referência para deteção de trombos auriculares, com a sensibilidade e especificidade superiores relativamente ao ecocardiograma transtorácico. Anticoagulação oral crónica com os antagonistas da vitamina K mantém-se como terapêutica de eleição para prevenção de eventos tromboembólicos na FA (1).
Figura I

Ecocardiograma transesofagica a mostrar trombo no apêndice auricular esquerda
Figura II

Ecocordiograma transesofágico sem evidencia de trombos
BIBLIOGRAFIA
1. ESC clinical guideline on management of atrial fibrillation Camm AJ , Kirchhof P , Lip GYH , Task Force for the Management of Atrial Fibrillation of the European Society of Cardiology ( 2010 ) Guidelines for the management of atrial fibrillation . Eur Heart J 31 : 2369 – 429. British Journal of Cardiac Nursing. 2011;6(5):240-242.
2. Bonhorst D, Mendes M, Adragão P, et al. Prevalência de fibrilhação auricular na população portuguesa com 40 ou mais anos – Estudo FAMA. Rev Port Cardiol. 2010;29:331-50.
3. Kirchhof P, Auricchio A, Bax J, Crijns H, Camm J, Diener H et al. Outcome parameters for trials in atrial fibrillation: executive summary: Recommendations from a consensus conference organized by the German Atrial Fibrillation Competence NETwork (AFNET) and the European Heart Rhythm Association (EHRA). European Heart Journal. 2007;28(22):2803-2817.
4. Clopidogrel plus aspirin versus oral anticoagulation for atrial fibrillation in the Atrial fibrillation Clopidogrel Trial with Irbesartan for prevention of Vascular Events (ACTIVE W): a randomised controlled trial. The Lancet. 2006;367(9526):1903-1912