Homem de 66 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia e tabagismo ativo, referenciado por quadro de anorexia e emagrecimento (>10% do peso corporal) com 1 ano de evolução. Na consulta referiu episódios recorrentes auto-limitados de náuseas e epigastralgia, tipo cólica, com irradiação peri-umbilical e início cerca de 1h após as refeições. Sem outra sintomatologia associada. Ao exame físico sem alterações. Estudo analítico, ecografia abdominal e estudos endoscópicos (endoscopia digestiva alta e baixa) normais.
Por manutenção das queixas realizou angiografia por tomografia computorizada (angio-TC) que mostrou proeminente placa de aterosclerose na origem do tronco celíaco com consequente diminuição de calibre (Fig. 1) e um defeito de repleção luminal da artéria mesentérica superior numa extensão com 2,3cm desde a sua origem em relação com trombose luminal (Fig. 2).
Foi assumido isquemia mesentérica crónica sintomática e submetido a angioplastia com stent da artéria mesentérica superior com resolução das queixas e aumento do peso.
A isquemia mesentérica crónica é causada pela diminuição do fluxo sanguíneo intestinal devido a oclusão dos vasos esplénicos e em mais de 90% dos casos é secundário a doença aterosclerótica
1,2. Raramente é sintomática devido à existência de circulação colateral
1,3. Quando há sintomas, é mais frequente nas mulheres e o mais clássico é a dor abdominal pós-prandial que condiciona perda de peso pela restrição alimentar
1-3. Outros sintomas menos frequentes incluem as náuseas, vómitos, enfartamento pós-prandial, diarreia e obstipação
1-3. O diagnóstico é clínico baseado nos sintomas e achados imagiológicos compatíveis
1-3. A técnica imagiológica mais recomendada é a angiografia não invasiva, nomeadamente a angio-TC, e a terapêutica endovascular com stent tornou-se o método de revascularização mais usado
1-3.
Figura I

Proeminente placa de ateroesclerose na origem do tronco celíaco (seta) com consequente diminuição de calibre desse mesmo vaso.
Figura II

No plano sagital é evidente a placa de ateroesclerose descrita na Figura 1. Há também uma obliteração de calibre da artéria mesentérica superior numa extensão de 2,5 cm desde a sua origem em relação com trombose luminal (seta).
BIBLIOGRAFIA
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