Mulher de 65 anos, hipertensa e dislipidémica, submetida previamente a endarterectomia carotídea por presunção de doença aterosclerótica.
Recorreu ao serviço de urgência por dor pré-cordial de características pleuríticas com irradiação dorsal/lombar bilateralmente, com três dias de evolução. Negava sintomas constitucionais ou outras queixas sugestivas de isquemia arterial. Ao exame objetivo apresentava diferencial de tensão arterial superior a 20mmHg nos membros superiores. O estudo analítico revelava síndrome inflamatório exuberante (VS »100mm/h) e positividade de D-dímeros. Realizou angiografia por tomografia computadorizada (Angio-TC) torácico que mostrou um espessamento circunferencial hipocaptante de toda a aorta torácica mais expressiva na aorta descendente (Fig. 1a e 1b).
O PET-scan (Fig. 2) confirmou inflamação da aorta torácica, compatível com vasculite de grandes vasos. Documentado estudo imunológico negativo e ausência de sintomatologia sugestiva de outra doença auto-imune. Excluídas também causas infeciosas de aortite (incluindo, VDRL negativo).
Assumida Arterite de Takayasu (AT) estadio 2b.Iniciou tratamento com Prednisolona (1mg/Kg/dia) com resolução do quadro inflamatório e sintomatologia em uma semana. Após desmame lento da terapêutica manteve-se assintomática e o Angio-TC tóracico de controlo revelou regressão completa dos achados (Fig. 1c).
A AT é uma vasculite de grandes vasos que afeta essencialmente a aorta e os seus ramos principais, e acomete sobretudo mulheres entre a 2ª-5ª década de vida.1,2,4 Esta vasculite é rara, com uma incidência de 1-3/1.000.000 casos por ano na Europa.4 Com uma patogénese ainda pouco esclarecida, apresenta-se imunopatologicamente com infiltrado no tecido aórtico de células que causam dano tecidual através da libertação de substâncias citolíticas.2,3,4 Pela variedade de expressão e de localização do dano, a sintomatologia associada a esta entidade é variada, desenvolvendo-se maioritariamente de forma subaguda.4 O prognóstico desta entidade depende, essencialmente, do dano, extensão das lesões e tratamento atempado.2,4
Figura I

TC torácico após administração de contraste EV revela no tomograma axial (a) e sagital (b) um espessamento circunferencial hipocaptante de toda a aorta torácica mais expressiva na aorta descendente (seta). TC toracico pós contraste de controlo (c) revela regressão dos achados, agora com normal espessura da parede da aorta torácica (seta).
Figura II

PET-scan mostra inflamação da aorta torácica (ascendente, crossa e parte inicial da descendente), tronco braquicefálico, parte da artéria subclávia direita e porção inicial da artéria carótida comum esquerda.
BIBLIOGRAFIA
1. Panico M, Spichler E, Rodrigues L, Oliveira F, Buchatsky D, Porto C, et al. Arterite de Takayasu: aspectos clínicos e terapêuticos em 36 pacientes. J Vasc Bras. 2008;7:123-30.
2.Keser G, Aksu K. What is new in management of Takayasu arteritis?.La Presse Médicale.2017;46:e229-35.
3.Zhu F, Luo S, Wang Z, Jin Z, Zhang L, Lu G. Takayasu arteritis: imaging spectrum at multidetector CT angiography.Br J Radiol. 2012;85:e1282-92.
4. Merkel PA. Clinical features and diagnosis of Takayasu arteritis; 2017 [consultado 2017 Dec 18]. Disponível em:http://www.uptodate.com