Caso clínicoMulher inglesa, de 72 anos, de férias na Madeira 2 dias antes da observação no Serviço de Urgência (SU). A doente recorre ao SU por prurido na face plantar do pé direito com várias semanas de evolução acompanhada de dermatite migratória de agravamento progressivo. Havia sido previamente medicada com corticóide e antifúngico tópicos sem resolução. Tratava-se de uma doente sem antecedentes pessoais de relevo e que não cumpria medicação habitual. Referia que o quadro teria tido início 5 semanas antes, durante uma estadia de férias no Brasil, em zona de praia. Ao exame objectivo observavam-se placas/pápulas eritematosas com trajecto serpiginoso. Atendendo à clínica e contexto epidemiológico admitimos o diagnóstico de
larva migrans cutânea. A doente foi medicada com albendazole 400mg durante 7 dias, com resolução completa.
A larva migrans cutânea é uma infecção helmíntica habitualmente causada por parasitas dos cães e gatos, mais frequentemente pelo Ancylostoma brazilienseouAncylostoma caninum. Tem uma distribuição essencialmente por climas tropicais e subtropicais, em zonas arenosas como praias. Os casos na Europa são essencialmente importados. O aspecto é habitualmente diagnóstico, caracterizado por pápulas e/ou placas eritematosas, com aspecto serpinginoso, por vezes com vesiculo-pústulas, decorrente da migração epidérmica das larvas.1,2 A resolução pode ser espontânea, contudo, o tratamento está indicado, nomeadamente para impedir superinfecção bacteriana. Os tratamentos disponíveis são ivermectina (200 μg/Kg em dose única) ou albendazole 400mg/dia durante 3 dias, embora para lesões mais extensas ou múltiplas seja preferível 5 a 7 dias. A resolução do prurido habitualmente precede a resolução da dermatite. O quadro geralmente extingue-se ao final de uma semana após o tratamento.3,4 Poderá haver uma forma pulmonar relacionada com a migração hematogénea dos nemátodes. O sintoma mais típico é a tosse seca que começa cerca de uma semana após a migração cutânea. Geralmente é um quadro auto-limitado que não exige tratamento.5
Figura I

Larva migrans cutânea
Figura II

Larva migrans cutânea
BIBLIOGRAFIA
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