Homem de 72 anos com história de doença arterial periférica e doença cerebrovascular grave, acamado e totalmente dependente.

Durante internamento por infecção respiratória aStaphylococcus aureusmeticilino-resistente identificámos isquémia crítica do pé esquerdo, sem possibilidade de angioplastia ou revascularização cirúrgica. Na evolução subsequente documentámos progressão para gangrena seca plantar e digital, conforme apresentado nas Figuras 1 e 2.

Perante escassa vida de relação adoptámos atitude conservadora, com realização de penso diário com sulfadiazina de prata e aplicação de betadine nos dedos gangrenados, evoluindo sem suspeita de infecção aguda. Dada estabilidade clínica procedeu-se a alta para Lar, com recomendação de manutenção dos referidos cuidados.

Sem necessidade de reinternamento hospitalar, o doente veio a falecer cerca de dois meses após alta. Segundo informações recolhidas junto do Lar persistiu sem evidência de complicações relacionadas com a isquémica crítica documentada, nomeadamente sobreinfecção.

A gangrena digital apresenta diferentes etiologias, nomeadamente isquémia, embolização, infecção, trauma, neoplasia e doenças granulomatosas^1,2. Sendo a isquémia a etiologia mais frequente, a reperfusão da extremidade deve ser efectuada sempre que possível, com recurso a angioplastia oubypass, antes de ser considerada a necessidade de amputação³.

A gangrena seca não constitui uma emergência pelo que é recomendada uma atitude conservadora antes de intervenção cirúrgica definitiva².

Figura I

Gangrena seca do pé esquerdo

Figura II

Gangrena seca do pé esquerdo

  BIBLIOGRAFIA  

1Adigun R., Bhimji S.S. Necrosis, Cell (Liquefactive, Coagulative, Caseous, Fat, Fibrinoid, and Gangrenous). StatPearls Publishing; 2017.

2Abdelfatah A.I., Mackenzie N., Simman R. Toe Necrosis, Etiologies and Management, a Case Series. J Am Coll Clin Wound Spec. 2013 Aug; 5(2): 26–35.

3Brearley S. Acute leg ischaemia.BMJ.2013;346:f2681.