O megacólon tóxico é uma complicação potencialmente fatal da colite, caracterizado pela dilatação cólica associada a toxicidade sistémica. Reconhecido como complicação da doença inflamatória intestinal, pode associar-se a outras etiologias como colite infecciosa ou isquémica
1,2. Apresenta-se o caso de um homem de 61 anos, com história de doença cerebrovascular, hipertensão, obesidade, dislipidémia e doença renal crónica (DRC). Trazido ao serviço de urgência por dor e distensão abdominal com quatro dias de evolução, náuseas, anorexia e dejecções diarreicas. Apresentava distensão abdominal e dor à palpação abdominal. Radiograma de abdómen com distensão cólica marcada (figura 1). Analiticamente ligeira leucocitose, proteína C reactiva 226 mg/L (N <5) e DRC agudizada - ureia 246 mg/dL (N 21-43), creatinina 4,16 mg/dL (N 0,57-1,11). Tomografia computorizada (TC) com distensão do cólon, sobretudo transverso (diâmetro máximo 115 mm), ângulo hepático e cego. Colonoscopia esquerda com edema da mucosa, áreas nacaradas e exsudado aderente, sugerindo colite isquémica. Medicado empiricamente com Piperacilina/tazobactam, apresentou inicialmente melhoria dos parâmetros inflamatórios e da disfunção renal, mantendo no entanto, importante desconforto abdominal com palpação mais dolorosa nos quadrantes direitos. Por reaparecimento de diarreia, colheu coproculturas e iniciou Metronidazol, excluindo-se entretanto, causa infecciosa para a mesma. Ao 5º dia de internamento, agravamento do quadro, nomeadamente da distensão abdominal, tendo repetido TC abdomino-pélvico que documentou isquémia intestinal, zonas de pneumatose da parede intestinal e pneumoperitoneu volumoso (figura 2). Colocada indicação cirúrgica, tendo sido realizada colectomia total. Cólon apresentava parede muito fina e marcada dilatação (perímetro de 14cm no cólon ascendente, 30cm no transverso, 25-35cm no cólon ascendente). Histologicamente com necrose isquémica da mucosa. Tratando-se de doente com factores de risco vascular, admitiu-se colite isquémica como causa provável para megacólon. O tratamento inicial desta entidade é conservador, colocando-se indicação operatória em caso de deterioração clínica, perfuração, hemorragia ou sépsis
2,3. Apesar do desfecho não fatal, este caso culminou em colectomia total.
Figura I

Radiograma tangencial de abdómen, onde se observa marcada dilação cólica.
Figura II

Tomografia computorizada abdómino-pélvica com megacólon e pneumoperitoneu.
BIBLIOGRAFIA
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