Um doente do sexo masculino, de 69 anos, recorreu ao Serviço de Urgência por febre. Referia dorsalgia direita, tosse e expetoração purulenta. Tinha antecedentes de dilatação cirúrgica de coartação aórtica, dupla prótese mecânica (em posição aórtica desde 2000 e em posição mitral desde 1985) e encerramento percutâneo com sucesso de leak aórtico com dois dispositivos Amplatzer VASCULAR PLUG II (3 meses antes) (Fig. 1).
Do estudo complementar, destacava-se elevação laboratorial de parâmetros inflamatórios ausência de consolidação de novo na radiografia torácica; e leak paraprotésico aórtico ligeiro a moderado residual no ecocardiograma transtorácico (ETT).
O ecocardiograma transesofágico (ETE), revelou um espessamento marcado da parede da aorta ascendente (15 a 20 mm), com envolvimento da raiz e da prótese valvular, sugerindo endocardite abcedada (Fig. 2 - A). O estudo microbiológico, por hemoculturas, identificaria Haemophilus parainfluenzae (grupo HACEK). Assinala-se que o ETE realizado 3 meses antes, após o encerramento percutâneo do leak aórtico, mostrou a parede aórtica com espessamento normal (Fig. 2 - B).
Foi iniciada terapêutica com vancomicina, gentamicina e rifampicina, no entanto evolução com desfecho adverso, com progressão para choque misto (cardiogénico e séptico) e paragem cardiorrespiratória reversível, sem recuperação de consciência. Admitem-se como eventos fisiopatológicos possíveis a fistulização do abcesso para a aorta e/ou a extensão miocárdica retrógrada da infeção, a confirmar por autópsia anátomo-patológica.
Os autores chamam a atenção para a importância das avaliações comparativas entre ETEs,2,3 e para o potencial risco aumentado de endocardite após encerramento de leak protésico.1,4
Figura I

Prótese mecânica em posição aórtica (estrela cor preta) e em posição mitral (estrela cor cinzenta). Encerramento percutâneo de leak aórtico com dois dispositivo Amplatzer VASCULAR PLUG II (estrela cor amarela), que foi realizado 3 meses antes.
Figura II

Painel A - Ecocardiograma transesofágico: plano esofágico médio, 156° com espessamento marcado da parede da aorta ascendente (15 a 20 mm), com envolvimento da raiz e da prótese valvular, sugerindo endocardite abcedada (seta cor vermelha). Painel B- Ecocardiograma transesofágico realizado 3 meses antes, após o encerramento percutâneo do leak aórtico, confirmando-se que a parede aórtica apresentava espessamento normal.
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia
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