Enquadramento
A tuberculose é uma doença infeciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis complex. Pode atingir qualquer órgão, sendo a forma pulmonar a mais frequente.1 Quase um terço da população mundial,dois mil milhões de pessoas, está infectado por este agente e em risco de desenvolver a doença. Anualmente, mais de oito milhões desenvolvem tuberculose activa (TB), dos quais dois milhões vêem a morrer.2
Descrição do Caso
Homem de 55 anos de idade. Construtor civil. Hábitos tabágicos: 10-12 cigarros/dia. Antecedentes de hábitos etílicos marcados, actualmente 24-48g de álcool/dia. Antecedentes cirúrgicos: Apendicectomia em 2011.
Recorreu ao serviço de urgência a 04/04/2018, por quadro de tosse com expectoração mucosa de predomínio noturno com 6 meses de evolução. Negava toracalgia, dispneia ou outros sintomas. Negava suores noturnos. Nos últimos meses referia astenia, anorexia e perda ponderal (10kg).
A auscultação pulmonar revelou crepitações e roncos dispersos de predomínio direito. Saturação 97% em ar ambiente e gasimetria arterial sem alterações. O restante exame objectivo era normal. Analiticamente apresentava leucocitose (11800) com neutrofilia (82.7%), PCR 145.5 e LDH- 489.
Solicitou-se RX tórax,3 que evidenciou cavitação no lobo pulmonar superior direito (Fig. 1 - RX Tórax). Para esclarecimento etiológico realizou TAC3 que revelou densificações irregulares peribroncovasculares bilaterais com extensa área de consolidação com broncograma aéreo no lobo superior direito e área de cavitação na sua vertente posterossuperior com 8. 5 cm. Ligeiro enfisema parasseptal e centrilobular. Derrame pleural esquerdo com uma espessura máxima de 3. 5 cm. Adenomegalias mediastínicas com eixo curto até 17 mm (Fig. 2 - TAC Tórax).
Perante a suspeita de tuberculose pulmonar solicitou-se estudo microbiológico na expectoração (3), cujo resultado foi positivo para Mycobacterium tuberculosis, nas 3 amostras.
Por instalação de quadro de insuficiência respiratória tipo I durante a permanência no serviço de urgência, optou-se pelo internamento e isolamento do doente, iniciando esquema com fármacos antibacilares,2 com posterior referenciação para o Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP).
Discussão
Sendo uma doença de declaração obrigatória e de interesse da saúde pública, é de extrema importância o diagnóstico precoce.4 Não menos importante é a orientação para CDP para instituição de terapêutica adequada, rastreio e eventual profilaxia de contactos.5
O papel do médico de família na gestão deste doente em concreto e sua família, foca-se em medidas de prevenção, promoção da adesão terapêutica e seguimento, numa abordagem biopsicossocial.
Figura I

RX - TB Pulmonar
Figura II

TAC - TB Pulmonar
BIBLIOGRAFIA
1. Saúde, Direcção geral de. Tuberculose em Portugal, Desafios e Estratégicas. s.l. : Programa Nacional para a Tuberculose, 2018.
2. João BENTO, Anabela Santos SILVA, Filomena RODRIGUES, Raquel DUARTE. Métodos de diagnóstico em Tuberculose. s.l. : Acta Médica Portuguesa, 2011. 24: 145-154.
3. Saúde, Direcção Geral de. Tratamento da Tuberculose - Linhas Orientadoras para Programas Nacionais. 2006.
4. DGS. Circular Nomativa nº 8/DT - SISTEMA DE INFORMAÇÃO INTRÍNSECO AO PROGRAMA DE TUBERCULOSE, REGISTO DOS CASOS E MONITORIZAÇÃO DOS. 2000.
5. Administração Central do Sistema de Saúde, Instituto Público. Referenciais de Competências e de Formação para o domínio. Lisboa : s.n., Julho 2012. 978-989-96226-7-8.