A fasceíte necrotizante é uma infecção que se traduz pela destruição fulminante de tecidos moles, sinais sistémicos de toxicidade e alta mortalidade (entre 6 e 76%)1. O factor desencadeante é desconhecido mas são comorbilidades frequentemente associadas: idade superior a 60 anos, Diabetes mellitus, uso de drogas endovenosas, obesidade, imunossupressão, cirurgia recente e feridas traumáticas.1,2,3
De acordo com a microbiologia a fasceíte necrotizante divide-se em tipo I (infecções polimicrobianas) e tipo II (infecções monomicrobianas).4
O diagnóstico precoce é fundamental. O tratamento baseia-se em desbridamento cirúrgico, antibioterapia de largo espectro.4
Apresenta-se o caso de um homem de 73 anos que recorreu ao Serviço de Urgência por febre e hematoquézias. Trata-se de doente com antecedentes de hipertensão arterial, Diabetes mellitus tipo 2 e mieloma múltiplo sob dexametasona, proposto para terceira linha de tratamento. Ao exame objectivo apresentava-se polipneico, taquicárdico, destacava-se edema assimétrico dos membros inferiores, crepitação na face posterior da coxa esquerda e livedo reticular no abdómen. Por suspeita de fasceíte necrotizante iniciou antibioterapia de largo espectro. Analiticamente apresentava anemia normocítica 8,0g/dL, trombocitopenia 64x109/L, sem leucocitose, PCR 6,60mg/dL, lactatos 11,3mmol/L. Realizou tomografia computorizada abdómino pélvica e dos membros inferiores que mostrou “marcado aumento do volume da coxa esquerda, devido a presença de exuberante quantidade de gás nos tecidos moles, a nível do plano muscular, compatível com a hipótese de fasceíte necrotizante(…). Gás endomedular a nível do fémur. Ar endoluminal nas veias femoral superficial, femoral comum e ilíaca externa a esquerda, bem como na veia cava inferior. Gás nos músculos da raiz da coxa esquerda e região glútea, planos peri prostáticos(…). Ar na gordura subcutânea dos dois terços proximais da perna esquerda.“ (Fig.s 1 e 2).
Apesar das medidas instituídas verificou-se agravamento clínico fulminante, vindo o doente a falecer em três horas.
Agradecimento
À Dra. Cláudia Paulino pelo relato das imagens.
Figura I

Corte coronal representando a extensão da fasceíte necrotizante. Marcado aumento do volume da coxa esquerda.
Figura II

2.1 Corte axial onde pode observar-se ar endoluminal a nível da veia cava inferior: 2.2 Corte axial onde pode observar-se gás endomedular a nível do fémur
BIBLIOGRAFIA
1 Sartelli et al. World Society of Emergency Surgery (WSES) Guidelines for management of skin and soft tissue infections. World Journal of Emergency Surgery 2014, 9:57
2 Anaya DA, Dellinger EP. Necrotizing soft-tissue infection: diagnosis and management. Clin Infect Dis 2007, 44: 705-10
3 Monteiro AI, et al. Necrose cutânea e fasceíte necrotizante pós-injeção de heroína. Revista Portuguesa de Cirurgia 2016, 41: 51-52
4 Stevens DL, Bryant AE. Necrotizing Soft-Tissue Infections. N Engl J Med 2017; 377:2253-2265