Um homem de 68 anos, com patologia osteoarticular degenerativa da coluna realizava intermitentemente etoricoxib 90mg, por queixas dolorosas. Durante um ano, apresentou, por períodos, vesículas/ bolhas que ulceravam na região genital e lábios (Figura 1) e máculas castanho-violáceas, arredondadas, sem infiltração no dorso (Figura 2), associadas a prurido. A localização das lesões era constante e coincidiam temporalmente com a toma de etoricoxib. Após cicatrização, mantinha hiperpigmentação residual. Negava queixas articulares e comportamentos sexuais de risco, apresentava serologias víricas e testes treponémicos negativos e parâmetros inflamatórios baixos. Concluiu-se o diagnóstico de eritema pigmentado fixo (EPF), variante bolhosa, secundário ao etoricoxib. O doente não teve recidiva das lesões após suspensão deste anti-inflamatório.
O EPF é um efeito adverso a fármacos pouco comum1-2. Caracteriza-se por máculas solitárias ou em pequeno número, redondas, eritematosas com centro escuro, na pele ou membranas mucosas1-3. Algumas variantes podem mimetizar a síndrome de stevens-johnson / nerólise epidérmica tóxica2,3. Aparecem entre 30 minutos a 8 horas após a ingestão do fármaco e são precedidas ou acompanhadas de prurido1-3. A localização mantém-se após cada reexposição ao fármaco e após a resolução permanece uma área hiperpigmentada1-3. As localizações mais frequentes são os lábios, as regiões genital e perianal e as mãos e pés2,3.
Os fármacos mais frequentemente responsáveis são anti-inflamatórios não esteroides, antibióticos, antimaláricos e barbitúricos1-4, sendo os inibidores selectivos da ciclo-oxigenase 2 uma causa rara4.
Nas lesões de EPF, os linfócitos T de memória residentes permanecem na pele por períodos prolongados, mesmo após a resolução das lesões. Com uma nova exposição ao fármaco, estes linfócitos libertam citocinas e reactivam a resposta inflamatória nos locais previamente afetados1-4.
O tratamento consiste na identificação e cessação do fármaco responsável, podendo o corticóde tópico ajudar na fase aguda
1-3.
Figura I

Lesão bolhosa, com ulceração superficial no dorso do pénis (A) e lábio superior (B)
Figura II

Máculas castanho-violáceas, arredondadas, sem infiltração no dorso.
BIBLIOGRAFIA
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2)Özkaya E. Fixed drug eruption: state of the art. J Dtsch Dermatol Ges. 2008; 6:181-188
3)Garcia D, Cohen PR. Dapsone-associated fixed drug eruption. Expert Rev Clin Pharmacol. 2017;10:1-9
4) Duarte AF; Correia O, Azevedo E, Palmares MC, Delgado L. Bullous fixed drug eruption to etoricoxib – further evidence of intraepidermal CD8+ T cell involvement. Eur J Dermatol. 2010;20:236-238