Mulher, 82 anos, autónoma, com factores de risco vascular, admitida no Serviço de Urgência em coma de instalação súbita (Escala Coma Glasgow 6),com pelo menos 6 horas de evolução, sem outros sinais de disfunção do tronco cerebral. Decidida entubação orotraqueal para protecção da via aérea e iniciou tratamento de suporte. Realizou Tomografia Computorizada (TC) crânio-encefálica e Angio-TC dos Troncos supraórticos e Artérias intracranianas que não revelou alterações parenquimatosas agudas ou obstrução do fluxo arterial.Ressonância Magnética (RM) crânio-encefálica evidenciou lesões talâmicas bilaterais, com restrição à difusão, traduzindo enfartes recentes no território da artéria de Percheron (AP). Dado o tempo de evolução não foi submetida a trombólise. Evoluiu favoravelmente, permitindo extubação após 24 horas. Durante o internamento manteve flutuação do estado de consciência e parésia da supra e infraversão do olhar. Dois anos após o evento, mantém oftalmoparésia discreta e disfunção cognitiva ligeira de predomínio mnésico.
A AP é uma variante anatómica que emerge de uma das artérias cerebrais posteriores e irriga a porção para-mediana do tálamo e do mesencéfalo bilateralmente1. Os 3 sinais clínicos cardinais da oclusão desta artéria incluem: paresia do olhar vertical (65%); alterações da memória (58%) e coma (42%)1,2.
O enfarte da AP corresponde apenas a 0,1 a 2% de todos os enfartes cerebrais, sendo uma causa rara de coma1,3. A sua instalação súbita, bem como a ausência de outros sinais de disfunção do tronco cerebral são pistas importantes que devem fazer pensar neste diagnóstico3,4. Representa uma situação clínica potencialmente fatal, sendo de suma importância o tratamento de suporte que pode, por si só, permitir uma evolução favorável do quadro5. A RM confirma a suspeição clínica, ao mostrar alterações típicas, em localização específica, sendo difícil a visualização da AP, dado o seu pequeno calibre2,4,6.
Com este caso clínico pretende-se mostrar uma causa rara de coma agudo.
Figura I

Imagens de RM crânio-encefálica: sequência em difusão (DWI1000b), a evidenciar áreas hiperintensas arredondadas paramedianas em ambos os tálamos.
Figura II

Imagens de RM crânio-encefálica (Mapa ADC) a evidenciar áreas hipointensas paramedianas em ambos os tálamos na região correspondente às áres de hiperintensas em DWI1000b.
BIBLIOGRAFIA
1) Caruso P, Manganotti P, Moretti R. Complex neurological symptoms in bilateral thalamic stroke due to Percheron artery occlusion.Vasc Helath Risk Manag. 2017; 13: 11–14
2) Lazzaro NA, Wright B, Castillo M, Fischbein NJ, Glastonbury CM, Hildenbrand PG, et al. Artery of Percheron infarction: imaging patterns and clinical spectrum.AJNR Am J Neuroradiol.2010;31:1283–9.
3) G. Ouriques, K. Lin, G. Espindola, L. Sukys, K.E. Ronchi, E.N.C. Bergamaschi, R. Debona. Symmetric bilateral thalamic stroke due to the occlusion of the artery of percheron: Differential diagnosis of coma. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases. Vol. 26, No. 8 (august, 2017): pp e170-e171
4) Xu Z, Sun L, Duan Y, Zhang J, Zhang M, Cai X. Assessment of Percheron infarction in images and clinical findings. J Neurol Sci 2017 Dec 15;383:87-92.
5) Zappella N, Merceron S, Nifle C, Hilly-Ginoux J, Bruneel F, Troché G, Cordoliani Y-S, Bedos J-P, Pico F, Legril S. Artery of Percheron Infarction as an Unusual Cause of Coma: Three Cases and Literature Review. Neurocritical Care June 2014, Volume 20, Issue 3, pp 494–501
6) McLellan A, Boyle K. Computed tomography Perfusion Abnormalities in Bilateral Thalamic Infarction Due to Artery of Percheron Occlusion