Apresenta-se o caso de uma mulher de 49 anos, com história de doença bipolar tipo 2, medicada habitualmente com valproato de sódio e venlafaxina. Sem outras doenças conhecidas e sem hábitos tabágicos ou alcoólicos. Recorreu ao Serviço de Urgência na sequência de derrame pericárdico e pleural esquerdo documentados ecograficamente em exame de rotina, solicitado pelo médico assistente por quadro de febre (38ºC), cansaço fácil para médios esforços e edemas periféricos de agravamento progressivo, com 2 meses de evolução. À observação objectivou-se diminuição do murmúrio vesicular no 1/3 inferior do hemitórax esquerdo e edemas até ao joelho bilateralmente. Do estudo complementar destaca-se aumento dos parâmetros inflamatórios sistémicos (leucocitose 38.580 e PCR 348 mg/L) e massa extensa na vertente anterior e inferior esquerda do pericárdio (Fig´s 1 e 2), com invasão das estruturas adjacentes. Admitida em internamento, realizou biópsia da massa, que ulteriormente revelou tratar-se de um mesotelioma pleural maligno, tendo sido referenciada a Oncologia Pneumológica. Realizou estadiamento que evidenciou envolvimento extenso (pericárdico, diafragmático, peritoneal, ósseo, hepático, gástrico, ganglionar aórtico e celíaco). Iniciou quimioterapia tendo realizado o primeiro ciclo com cisplatina/ pemetrexede e posteriormente carboplatina/ pemetrexede (por reacção leucemóide secundária ao 1º ciclo). Apesar da terapêutica instituída, a doente veio a falecer cerca de 3 meses após o diagnóstico. Salienta-se este caso pela apresentação do mesmo numa doente sem história conhecida de exposição a asbestos ou a radiação, principais fatores de risco conhecidos associados.1,2,3
Trata-se de uma doença invasiva com rápida evolução e de mau prognóstico, com tempo de sobrevida média estimado em 12 meses.1
Figura I

Massa lobulada heterogénea com necrose central, adjacente à vertente anterior e inferior esquerda do pericárdio (11.5 por 4.4 cm), com invasão para o espaço pericárdico, parede anterior do hemitórax esquerdo, diafragma, cavidade peritoneal e lobo esquerdo do fígado e corpo gástrico.
Figura II

Massa lobulada heterogénea com necrose central, adjacente à vertente anterior e inferior esquerda do pericárdio (11.5 por 4.4 cm), com invasão para o espaço pericárdico, parede anterior do hemitórax esquerdo, diafragma, cavidade peritoneal e lobo esquerdo do fígado e corpo gástrico.
BIBLIOGRAFIA
1. Bruce W. S. Robinson, Richard A. Lake,Advances in Malignant Mesothelioma, N Engl J Med, 2005; 353:1564-1573.
2. Anna C. Bibby, Slina Tsim, Nikolaos Kanellakis, Hannah Ball, Denis C. Talbot, Kevin G. Blyth et al,Malignant pleural mesothelioma: an update on investigation, diagnosis and treatment, Eur Respir Rev, 2016; 25: 472-486.
3. Frank E. Mott,Mesothelioma: a review, Ochsner J., 2012 Spring; 12(1): 70-79.