A lesões cerebrais ocupando espaço (LOE) correspondem, na sua maioria a neoplasias malignas, das quais cerca de metade são primárias do sistema nervoso central e as restantes metástases.
Homem, 43 anos, fumador, com quadro de cefaleias frontais, naúseas, fotofobia e dificuldade na marcha com um mês de evolução. Ao exame apresentava dismetria do membro inferior esquerdo e marcha in tandem. A tomografia computorizada (TC) cerebral revelou duas LOE bilaterais, parietotemporal direita e parietal esquerda, com edema. A ressonância magnética cerebral esclareceu os achados, mostrando LOE occipitotemporal posterior direita de 35x25mm e parietal posterior esquerda de 25x20mm (Figura 1), sugestivas de metástases. Estudo analítico sem alterações relevantes, nomeadamente sem elevação dos parâmetros inflamatórios. A TC torácica identificou lesão espiculada no lobo superior direito (Figura 2). Sem alterações significativas na broncofibroscopia. Citologia negativa. Anatomia patológica revelou sarcoma pleomórfico primário do pulmão. Foi submetido a metastectomia das LOE, radioterapia holocraniana e lobectomia superior direita. Aos 6 meses de seguimento, assintomático e sem evidência de recidiva ou metastização.
Os sarcomas pleomórficos representam 0.1% a 0.3% de todos os tumores do pulmão(1). Por apresentarem características anatomopatológicas de sarcoma, classificam-se como carcinomas sarcomatóides, um subtipo de tumores de não pequenas células(2). Tipicamente, são neoplasias agressivas com metastização precoce(3). A elevada frequência da mutação KRAS está associada ao curso agressivo desta neoplasia e a reduzida expressão de mutações do EGFR impede o uso dos agentes antiangiogénicos anti-EGFR(3). A sua presença em simultâneo limita a utilização da quimioterapia no tratamento do carcinoma pleomórfico, embora possa ser coadjuvante da radioterapia (4; 3). A resseção cirúrgica parece estar associada a melhor prognóstico a longo prazo (5). Ainda assim, continua por se definir o papel da quimio e radioterapia, quer sejam com intenção curativa, adjuvante ou paliativa(5). A imunoterapia poderá ser uma possibilidade no futuro(5).
Figura I

Figura 1: lesão nodular na transição occipitotemporal direita compatível com metástase cerebral
Figura I

Figura 2: lesão espiculada no lobo superior direito compatível com sarcoma pleomórfico
BIBLIOGRAFIA
1. Martin LW, Correa AM, Ordonez NG, et al. Sarcomatoid carcinoma of the lung: a predictor of poor prognosis. Ann Thorac Surg. 2007;84:973–980.
2. Travis WD et al, The 2015 World Health Organization Classification of Lung Tumors Impact of Genetic, Clinical and Radiologic Advances Since the 2004 Classification. 2015. Journal of Thoracic Oncology.
3. Weissferdt A, Pulmonary Sarcomatoid Carcinomas: A Review, Adv Anat Pathol 2018;25:304–313.
4. Saccone et al, 2015, Sarcomatoid Lung Carcinoma Case and Clinicopathologic Review, Clin Pulm Med 2015;22:100–104.
5. Chunyu Ji, Chenxi Zhong, Wentao Fang, Heng Zha, Surgical treatment for pulmonary pleomorphic carcinoma: A retrospective study of 60 patients. Thoracic Cancer 5 (2014) 250–254.