Lesões osteolíticas dos maxilares podem ter origem odontogénica ou não-odontogénica. Têm apresentação radiográfica semelhante, sendo o diagnóstico diferencial baseado em elementos da história clínica e/ou exame histológico.1
Os tumores castanhos são lesões ósseas metabólicas que surgem no contexto do hiperparatiroidismo (HPT) pela elevada atividade dos osteoclastos que substitui osso e medula óssea normais por tecido fibroso e sangue.2
Apresenta-se o caso de uma mulher, 58 anos, seguida na consulta de Cirurgia Maxilo-Facial por lesão lítica no maxilar superior direito. Referenciada à consulta de Medicina Interna por anemia (Hb 10,7 g/dL) e lesão renal (ureia 90 mg/dL; creatinina 1,92 mg/dL) em avaliação pré-operatória. Na anamnese apuraram-se queixas de adinamia, polidipsia e dor óssea ligeira (omoplata e bacia). Analiticamente destacava-se hipercalcemia (cálcio corrigido de 16,9 mg/dL), paratormona intacta elevada (2830 pg/mL) e níveis séricos baixos de 25-hidroxivitamina D (13,59 ng/mL). A eletroforese de proteínas séricas e urinárias, função tiroideia, reticulócitos e cinética do ferro não evidenciaram alterações. A ecografia renal foi normal e o DEXA scan mostrou osteopenia ligeira. A tomografia computorizada (TC) revelou formação nodular sólida na paratiróide direita e múltiplas lesões osteolíticas envolvendo o maxilar superior direito, mandíbula, omoplata esquerda e ilíaco esquerdo (figuras 1a e 2a).
Perante diagnóstico de hiperparatiroidismo primário (HPTP) com doença óssea, foi realizada paratiroidectomia inferior direita, com resolução completa do quadro clinico-laboratorial. O exame anátomo-patológico revelou tratar-se de adenoma. A TC aos 6 meses evidenciou remineralização das lesões dos maxilares (figuras 1b e 2b).
A incidência de HPTP é maior a partir da quinta década de vida e atinge mais frequentemente as mulheres.3 Em 80% dos casos deve-se a adenoma único da paratiróide.4 Nos países desenvolvidos, com o doseamento do cálcio a ser incluído na avaliação laboratorial de rotina, o diagnóstico de HPT em contexto de doença óssea e particularmente de lesão lítica dos maxilares, tornou-se uma situação incomum.5
Figura I

TC, lesão osteolítica no maxilar superior direito (a) com evidência de remineralização aos 6 meses (b).
Figura II

TC, lesão osteolítica na mandíbula (a) com evidência de remineralização aos 6 meses (b).
BIBLIOGRAFIA
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2. Popovik-Monevska D, Bozovik-Dvojakovska S, Popovski V, et al. Brown Tumour in the Mandible and Skull Osteosclerosis Associated with Primary Hyperparathyroidism – A Case Report. Open Acess Macedonian Journal of Medical Sciences 2018; 6(2): 406-409
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